Novos residentes oriundos da Venezuela em Portugal duplicaram em 2017.

As madeirenses Ana Luisa e Maria Ana são por estes dias inquilinas provisórias da cidade das Gôndolas. Todos os dias caminham uma hora e apanham o barco para a ilha em frente à praça de São Marcos, onde bordam à vista dos visitantes da Homo Faber. Já esgotaram os cartões de visitas, são estrelas de fotografia e vídeo e até já foram aplaudidas.
Texto de Marina Almeida, em Veneza*

Bordado Madeira

Não há que enganar: mal se entra na exposição Discovery and Rediscovery, encontra-se a dupla de bordadeiras da Madeira. Ana Maria e Ana Luísa estão num dos espaços da Fundação Giorgio Cini, no âmbito da enorme mostra do artesanato europeu que é a Homo Faber, a decorrer em Veneza, Itália, até domingo. E ali estão entre panos e linhas de algodão a bordar, como fizeram toda a vida.

Maria Ana tem 50 anos. Começou a bordar nas férias ainda pequena. “O ponto corda, que era o mais fácil”, conta num momento de rara calma do espaço dedicado ao artesanato português. Quando acabou o sexto ano, começou a aprender os outros pontos. “Com 14 anos já fazia os meus próprios bordados para as casas de bordados do princípio ao fim”.
Sorridente, Maria Ana segura um pano onde borda o ponto richelieu a linha azul. “Trouxe uma toalhinha pequena, que tinha os pontos todos, mas já acabei. E agora estou a fazer outra de richelieu. Dentro do richelieu tem vários pontos. Os bastidos, granitos e o ponto corda...” vai explicando. Têm sido assim, os seus dias venezianos. Ouvir gente curiosa, explicar que arte é aquela, como se faz.
“As pessoas chegam aqui e dão palmas, dizem que a gente está de parabéns. Dizem que é um espetáculo ver a gente a bordar. Estão a adorar ver a gente aqui”, diz com os olhos brilhantes. Ao seu lado, está Ana Luísa. Natural de Porto da Cruz, na Madeira, aprendeu com a avó e depois com a mãe, e fez-se bordadeira. À filha, professora em Lisboa, quis dar estudos “para ela procurar um trabalho melhor”. É que esta é uma arte onde não se ganha dinheiro. Maria Ana tem dois filhos, mas mesmo que tivesse uma filha eu ia querer que ela procurasse outro trabalho. “Isto dá pouco dinheiro. Queria que [ela] aprendesse, porque é bom que as pessoas mais novas vão aprendendo para não deixar esquecer, que esta é uma tradição nossa, mas para ficar só com isto, como eu... não...”
Atrás delas está uma enorme toalha de mesa. Custa 2900 euros e pode demorar oito meses ou mais a bordar. Não é difícil fazer a conta. Ambas acreditam que eventos como a Homo Faber podem ajudar ao reconhecimento do seu ofício e à valorização dos produtos, até porque trabalho não lhes falta e interesse, pelos vistos, também não. “No domingo tivermos aqui mais de seis mil pessoas”, diz Maria Ana. Os visitantes, gente de várias nacionalidades e idades que por ali passa, dizem-lhes que o trabalho é bonito, levam cartões – “já esgotamos os cartões todos, tirámos fotocópias e esgotaram outra vez”, tiram fotos, fazem vídeos. “Levam tudo filmado para aprender como se faz”, conta.
Este mega evento dedicado aos artesãos e ofícios de excelência europeus, tem precisamente entre um dos objetivos a valorização deste património. Alberto Cavalli, diretor da Fundação Michelangelo, que organiza a Homo Faber, dizia-nos na véspera acreditar que as se as pessoas conhecem a verdade das peças, todo o trabalho até chegar ao produto final, seguramente vão valorizá-lo e perceber o seu preço. E é isso que se mostra na ilha de San Giorggio Cini, em todo o seu esplendor.
Nicole Segundo, a responsável da Fundação Michelangelo para Portugal, reconhece, no entanto, que há um grande trabalho por fazer no país. “Estamos no início em Portugal. Há várias iniciativas a nível local que estão a ser feitas e agora é trabalhar com a Michelangelo para podermos avançar de forma concreta”, disse à DN Ócio, admitindo que já se desenham algumas ideias neste sentido, sem querer adiantar quais. “Estamos no início de descobrir o enorme tesouro de craftsmanship que existe em Portugal”, refere. “Eu acho que é importante fazer um mapping dos trabalhos que estão em risco de desaparecerem”, acentuou.
Nos três últimos dias da Homo Faber, vai estar um artesão de Santarém, Manuel Ferreira, a fazer uma cadeira de bunho no espaço Best of Europe (onde até amanhã estará Miguel Alonso, entalhador da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva a mostrar o seu trabalho). Bunho é uma técnica de cestaria tradicional, algo “raríssimo”, sublinha Nicole Segundo satisfeita por trazer a Veneza mais esta preciosidade do artesanato nacional.
*A jornalista viajou a convite da Michelangelo Foundation

In Ócio DN

Os filhos de emigrantes portugueses ocuparam este ano 324 vagas nas universidades nacionais, mas este número está longe de preencher a quota de 3.000 alunos, disse na quarta-feira o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.

estudantes

Falando para uma plateia de conselheiros das comunidades portuguesas no mundo, que se reuniram, em sede de comissões temáticas, entre quarta e quinta-feira em mais uma das suas reuniões na Assembleia da República, José Luís Carneiro adiantou que em número de candidatos destacam-se os de França, 67, Brasil com 47 e Venezuela com 42.

O contigente tem até mais de 3.000 vagas, lembrou o governante.
“O número dos que entraram este ano duplicou o de 2015. É um sinal positivo, mas temos ainda muito para usar e estamos disponíveis para alargar esta quota se estas 3.000 vagas forem ocupadas”, afirmou.

O secretário de Estado anunciou ainda que o Governo está a ultimar um conjunto de oportunidades de emprego em Portugal dirigidas aos portugueses no estrangeiro. E adiantou, à margem do encontro, que este pacote poderá ser anunciado em Outubro na Venezuela.
Em Maio, o secretário de Estado tinha anunciado que estava em desenvolvimento a criação de um instrumento de divulgação de ofertas de emprego e propostas de formação e qualificação profissional para os emigrantes.
“Queria referir que os apoios aos emigrantes portugueses que queiram regressar ao nosso país são para todos. E esta é uma decisão política intrínseca. Portugal tem os braços abertos para vos poder acolher, vocês, os vossos familiares (...) que queiram regressar ao nosso país. São para todos e não só para os que emigraram nos últimos tempos”, afirmou José Luís Carneiro.
No entanto, referiu que relativamente aos incentivos fiscais ao regresso de emigrantes, neste momento, ainda não é possível definir os contornos exactos das medidas.
Carneiro referia-se às medidas anunciadas há dias pelo primeiro-ministro, António Costa, para o Orçamento do Estado do próximo ano, entre as quais o alívio da carga fiscal para emigrantes que regressem ao país, pagando apenas metade do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) nos primeiros tempos após o retorno.

In O Século de Joanesburgo

A forma como os regressados da Venezuela estão a integrar-se na sociedade madeirense tem merecido, sobretudo nos últimos dias, rasgados elogios por parte das autoridades nacionais. “A Madeira atingiu um patamar de desenvolvimento que facilita essa integração “, explica Jorge Carvalho, governante com a tutela das Comunidades. “A Madeira que estes emigrantes encontram hoje não tem nada a ver com a ilha que abandonaram noutros tempos. Não paramos no tempo, atingimos um nível de desenvolvimento que lhes permite fixarem-se, desenvolverem as suas atividades profissionais, algumas específicas como a informática, em que a Madeira oferece soluções no mercado de trabalho”.

Jorge carvalho venezuela


Em declarações ao JM, Jorge Carvalho acrescenta também outra vertente importante na integração dos portugueses que regressem para a Madeira: a capacidade de resposta do sistema de Saúde.
“A Madeira apresenta hoje uma realidade próxima daquela a que esses emigrantes estavam acostumados, nalguns casos até melhor, pelo que a integração acaba por fazer-se de forma muito satisfatória”, acrescenta Jorge Carvalho.
Mais 1.500 Regressados
Há mais 1.500 emigrantes regressados da Venezuela, bem com mais 400 alunos no sistema de educativo da Madeira, comparativamente aos dados que estiveram em cima da mesa, em dezembro de 2017, aquando da reunião liderada pelo secretário de Estado das Comunidades com os secretários regionais da Educação, Saúde e Assuntos Sociais.
Esta atualização dos números esteve em foco em Lisboa, no encontro que Jorge Carvalho manteve ontem com o secretario de Estado José Luís Carneiro, no âmbito dos contatos regulares entre governos que ficaram acordados em Dezembro do que ano passado.
Tal como o JM antevira, a reunião de ontem foi também marcada pelos últimos desenvolvimentos, em Caracas, com a libertação de vários gerentes de supermercados, a maioria de origem madeirense. “Congratulo-me com essa libertação “, afirmou o governante madeirense ao JM, no final da reunião, acrescentando depois a “enorme satisfação por esses portugueses, muitos oriundos da Madeira, poderem voltar a desenvolver a sua atividade profissional”.
Compromisso Assumidos
A atualização dos números dos regressados à Madeira- no total acumulados, são já 6 mil, dos quais 4 mil estão inscritos na Segurança Social e mil crianças ou jovens matriculados nas escolas da Região – acaba por ser um dado relevante, face ao compromisso que o Governo da República assumiu em dezembro na Madeira para 2018: 1,5 milhões de euros para apoios sociais e até 1 milhão para despesas com Saúde, equivalente a um terço desses gastos.
“Esses compromissos estão a ser cumpridos”, revelou Jorge Carvalho ao JM. “Há uma conta corrente para os apoios sociais. Nas despesas de Saúde, por não teremos sistemas compatíveis, haverá um apoio efetivo após o apuramento que está a ser feito. Na Educação, o aumento de alunos foi absorvidos pela rede educativa existente e não obrigou a mais turmas nem a contratação de mais professores.
Apesar desta contabilidade relativamente à Madeira, Jorge Carvalho deixa bem claro que não há nenhum tipo de dúvidas que compete ao Estado a responsabilidade com os encargos de acolhimento aos cidadãos portugueses que decidem regressar ao seu país. “Neste caso estamos falar de portugueses que por acaso preferem regressar para a Madeira, mas que poderiam regressar para Trás-os-Montes ou para o Algarve ou para outra zona de Portugal.
Jorge Carvalho na Comitiva
Fruto da proximidade entre duas tutelas das Comunidades no Governo da República e na Madeira, Jorge Carvalho foi convidado a integrar a comitiva chefiada por José Luís Carneiro, que se desloca a Caracas no início de Outubro.
Tal como o JM já noticiara na terça-feira, o secretário de Estado das Comunidades desloca-se durante a próxima semana à Venezuela. Os direitos e garantias dos gerentes das várias cadeias de supermercados portugueses, detidos e entretanto já libertados, continuarão a ser um dos pontos da agenda do governante português, mas há outras questões que se mantêm na primeira linha das preocupações.

in JM - Edição Impressa

O Governo Regional e o seu presidente, Miguel Albuquerque, vêm manifestar a sua satisfação pela libertação dos 12 portugueses e lusodescendentes, quase todos eles madeirenses, que se encontravam detidos na Venezuela, desde a passada quinta-feira, por suspeita de incumprimento da lei dos preços”, lê-se em comunicado do gabinete do GR.

MA elogia

 

“A Região elogia a forma empenhada como o Governo da República lidou com a situação, que foi acompanhada desde a primeira hora pelo Governo Regional”, acrescenta a mesma nota.
O GR informa também o seguinte: “o secretário regional da Educação, Jorge Carvalho, está, aliás, hoje em Lisboa, para reunir com o secretário de Estado das Comunidades, acerca do caso agora resolvido e ainda de outras questões que se prendem com a segurança dos nossos conterrâneos. E igualmente outros assuntos relacionados com o apoio aos emigrantes que, entretanto, regressaram à Madeira”.

In JM