A história começa quando o Infante D. Henrique juntou alguns dos seus navegadores na missão de conhecer melhor a costa oeste africana após a conquista de Ceuta.

600anos RAM

Foi assim que João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira chegaram de barca a uma pequena ilha em 1418, escapando ao mau tempo, acabando por lhe dar o nome de Porto Santo. Um ano depois desembarcaram na baía de Machico e iniciaram a exploração da ilha, a que chamaram 'Madeira' devido à abundância de árvores.

A Madeira prepara agora uma celebração em grande dos seus 600 anos - que muitos defendem ter sido mais um “reconhecimento” que um “descobrimento”, uma vez que a ilha já constava de mapas e cartas de navegação do séc. XIV. As comemorações começam já em 2017 a ser preparadas, envolvendo um vasto calendário de eventos culturais, exposições, espetáculos, “iniciativas festivas de caráter popular” ou produção de livros, além da emissão de selos ou medalhas alusivos à efeméride. Estas ações começam em 2018 e vão estender-se até 2020, prometendo trazer também impactos ao turismo na Madeira, cuja meta até 2027 passa por aumentar a cada ano os visitantes em 1,5% e as respetivas receitas em 2,5%.

QUINTA DO MONTE REABILITADA, MUSEU VICENTES RECUPERA ACERVO FOTOGRÁFICO


“Dar a conhecer a Madeira ao mundo” é o objetivo que move a celebração dos '600 anos do Descobrimento da Madeira e Porto Santo', que “também são para Portugal um momento de reviver um percurso que afirmou o país de uma forma diferente”, frisa Eduardo Jesus, secretário regional da Economia, Turismo e Cultura da Região Autónoma da Madeira.

A partir do próximo ano, o programa associado à comemoração dos 600 anos também vai mobilizar na Madeira “uma série de intervenções no seu património edificado”, conforme adianta Eduardo Jesus, referindo que “edifícios de grande interesse histórico vão merecer investimento”. Um dos exemplos será a Fortaleza do Pico, nome com que é conhecida a Fortaleza de São João Baptista do Pico das Frias no concelho do Funchal.

No âmbito das comemorações dos 600 anos, o programa de requalificação de edifícios também vai passar pela “reabilitação de diversas quintas madeirenses”, como avança Eduardo Jesus, dando o exemplo da Quinta da Magnólia e os seus jardins, além da Quinta do Monte (conhecida como Quinta do Imperador, por aí ter residido o imperador Carlos da Áustria, no seu exílio na Madeira em 1921). A sede das comemorações dos 600 anos irá funcionar na Torre do Capitão, no Funchal.

No campo das iniciativas culturais, a área editorial e de produção de livros vai estar em destaque. “Com as comemorações dos 600 anos vão surgir diversas obras ligadas aos aspetos que distinguiram a Madeira, além da reedição de obras de referência da nossa região que se perderam ao longo do tempo”, adianta Eduardo Jesus.

O vinho irá estar aqui em foco. “Foi com vinho da Madeira que se celebrou a independência dos Estados Unidos, era o vinho dos czares da Rússia e também considerado o vinho mais antigo do mundo”, enumera o secretário regional, lembrando que várias outras histórias associadas ao vinho da região, como o facto “de ter sido oferecido a Napoleão Bonaparte quando ia para o exílio e passou pela Madeira”.

Segundo Eduardo Jesus, na comemoração dos 600 anos “vai haver também uma ligação muito forte ao Museu Vicentes de fotografia, que tem mais de 800 mil negativos desde o séc. XIX, é um património fabuloso que a Madeira tem, e neste momento está a ser tratado e catalogado. Até ao final do ano vamos disponibilizar cerca de três mil fotografias para consulta pública 'online'”. Outro foco também estará “no património riquíssimo que a Madeira tem e está patente nos seus museus”, como é o caso do Museu do Romantismo.

ara a Madeira, trata-se de “uma comemoração nacional com relevante interesse internacional, revelando como em 600 anos de história a região teve um papel fundamental não só na expansão marítima nos séculos XV e XVI, como também na afirmação de Portugal no mundo”. A região assume que “celebrar a história também é fortalecer experiências, juntar na mesma memória um povo que vive dentro e fora do arquipélago, com particular ênfase na diáspora madeirense um pouco por todo o mundo”. E afirma-se empenhada em que as comemorações dos 600 anos ganhem “uma identidade própria que se transmita às gerações vindouras e sejam mais um marco na história do arquipélago”.

in Expresso