"O que torna este número surpreendente é o facto de a maioria destes alunos serem namibianos e de o português ser uma língua de opção curricular a partir do 8º ano", explica Angelina Costa, Adjunta da Coordenação do Ensino Português.
Um desafio, mas ao mesmo tempo uma oportunidade para aplicar os conhecimentos adquiridos na África do Sul, ao longo de dez anos, como professora de português na vertente de Português Língua Estrangeira. Foi com estes princípios em mente que Angelina Costa aceitou assumir o cargo que desempenha há pouco mais de ano e meio. É Adjunta da Coordenação do Ensino Português na Namíbia, um país onde o português é língua de opção curricular nas escolas namibianas, a partir do 8º ano, sendo ministrada a mais de dois mil estudantes, desde o ensino básico ao superior, como revelou ao 'Mundo Português'.
Quais são os números do ensino português, tanto no básico e secundário como no ensino universitário?
Atualmente o número de alunos no ensino básico é de 136 alunos, 1783 alunos no ensino secundário, o que perfaz um total de 1919, e 125 alunos na Universidade da Namíbia. O que torna este número surpreendente é o facto de a maioria destes alunos serem namibianos e de o português ser uma língua de opção curricular a partir do 8º ano nas escolas namibianas.
Em quantas escolas é oferecido como língua estrangeira de opção curricular? Há perspetivas de aumento do número de escolas a incluírem o ensino do português?
Atualmente o português é uma língua estrangeira de opção curricular em 22 escolas em sete regiões da Namíbia, nomeadamente Khomas, Erongo, Oshana, Ohangwena, Rundu, Divundu e Tsumeb. O Memorando de Entendimento foi assinado a 14 de novembro de 2011 e o português foi implementado em nove escolas no início de 2012 com um total de 371 alunos. Neste momento o projeto está numa fase de consolidação em que é necessário analisar as necessidades específicas e concentrarmo-nos na formação contínua dos professores namibianos, sem descurarmos com certeza o crescimento do mesmo. De acordo com a estrutura de que disponibilizamos e com número de professores que terminam os seus cursos de português na Universidade da Namíbia, é possível um aumento anual de uma a duas escolas na rede.
Nos vários níveis de ensino tem aumentado a procura, o interesse, pela aprendizagem do português?
A procura e o interesse pela língua portuguesa são constantes na Namíbia porque há uma consciência de que a língua, devido à proximidade com Angola, é sinónimo de poder económico. Residem na Namíbia Cerca de 100 mil angolanos, a somar os 1500 portugueses, e cerca de 500 mil angolanos visitam anualmente a Namíbia, aqui utilizando os serviços de saúde, os serviços educacionais e para adquirirem bens e passar férias. Esta mobilidade gera uma necessidade real por parte dos homens de negócios, empresas e comerciantes locais em falarem português, o que é visto como uma mais-valia profissional. Se acrescentarmos a cooperação forte com o Brasil a nível militar, em que toda a marinha de guerra namibiana fala português e é formada em academias brasileiras, há uma importância geoestratégica do português que é falado em todo o Atlântico Sul.
O português é também ensinado no formato de cursos livres. Quantos alunos os frequentam, onde são ministrados e quais as idades dos alunos?
Os cursos livres são oferecidos no Centro Diogo Cão em horário pós-laboral. Estes cursos são de 52 horas e decorrem duas vezes por semana com uma duração de 13 semanas. A média anual é de 120 alunos e a faixa etária destes é entre os 18 e os 70 anos.
Qual é o perfil dos estudantes que optam por aprender português, nas suas variadas formas de oferta? O que os leva a optar por esta língua?
Os alunos procuram estes cursos por motivos profissionais, porque querem viajar para países de expressão portuguesa ou porque gostam da língua. Há uma grande procura pela classe médica e por empresários.
Que programas, atividades, projetos de complemento ao ensino do português, são desenvolvidos?
A Coordenação de Ensino/Centro Diogo Cão em conjunto com a Embaixada de Portugal em Windhoek, com o apoio do Camões, I.P leva a cabo todos os anos um Plano de Atividades Culturais. Algumas destas atividades são desenvolvidas através de parcerias com organismos/entidades locais, designadamente Tulipanmwe, a National Gallery of Namibia, que é uma oficina de trabalho de artistas plásticos, e uma Residência de Dança em parceria com o College of Arts. Este ano estabeleceu-se uma parceria com o Município de Windhoek para incluir no conceituado Windhoek Jazz Festival, um artista português de jazz. Outras atividades que decorrem anualmente são o Festival de Cinema da EUNIC e o Festival Ibero-americano. No cômputo geral, são desenvolvidas todos os anos uma média de 13 atividades culturais.
A formação de professores é o garante para a continuidade do EPE na Namíbia? Para além da docência, é disponibilizada a especialização em Tradução/Interpretação?
A formação de professores é o pilar de todo o projeto de língua portuguesa na Namíbia. Os professores que estão no terreno necessitam de um apoio constante, de construir e manter a confiança que têm neles, enquanto falantes e professores de língua portuguesa, para poderem melhorar as suas competências e motivar os alunos para a aprendizagem da língua e de adquirirem um sentido de pertença.
Os professores deste projeto estão motivados para ensinar a nossa língua e como conseguem, de uma forma extraordinária, motivar os seus alunos…
No dia 30 de novembro decorreu no Centro Diogo Cão uma cerimónia com o objetivo de reconhecer o melhor aluno de língua portuguesa de cada escola onde o português é ensinado como língua de opção curricular. Foi extremamente recompensador verificar que os alunos estão motivados para aprender português e quiçá para serem futuros professores de Língua Portuguesa. Nesta cerimónia os alunos receberam um certificado e um dicionário de língua portuguesa.
A Universidade da Namíbia ainda não oferece um curso em Tradução/Interpretação. Neste momento, os nossos esforços estão concentrados na formação de professores. A Universidade da Namíbia reconhece a preponderância da Língua Portuguesa neste contexto e com certeza poderá ser criado num futuro próximo um curso em Tradução e Interpretação.
Numa entrevista para o Encarte Camões, IP de julho/2015, referiu o protocolo com a Polícia da Namíbia para o ensino de português, assim como os cursos ministrados a diplomatas. Estas vertentes do ensino mantêm-se?
O protocolo com a Polícia Namibiana foi prorrogado por mais quatro anos aquando da visita da Senhora Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Dra. Teresa Ribeiro. A intenção de renovar e de possivelmente aumentar o número de cursos mostra o sucesso que este protocolo alcançou.
O protocolo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros mantém-se mas encontra-se neste momento em avaliação para que possamos adequar o curso aos horários dos funcionários deste ministério. Há um interesse por parte do Ministério da Defesa em que os seus oficiais aprendam a língua portuguesa mas estamos a encetar conversações.
Que metas ainda há a alcançar, na sua opinião?
Uma das metas a alcançar é tornar este projeto sustentável na medida em que seja assegurado pelas instituições namibianas. Este é um projeto muito recente, mas a meu ver é importante investir na formação dos professores para que no futuro o possam assegurar. A chave é a formação contínua e também garantir que as instituições, principalmente as de ensino superior, tenham um corpo docente constituído por professores devidamente qualificados e com o nível de proficiência desejado.
Outra meta passará por tentar colaborar com a Namibian University of Science and Technology (Universidade da Namíbia para a Ciência e Tecnologia) para criarmos cursos de língua portuguesa para os estudantes de turismo e de cursos técnico profissionais.
E que futuro poderá ter a aprendizagem do português na Namíbia? Na sua entrevista em julho/2015, afirmava que tinha “todas as condições para se tornar a segunda língua mais falada na Namíbia”. Mantém essa crença?
O português poderá tornar-se a segunda língua estrangeira mais falada na Namíbia. Pressupõe-se que a percentagem de falantes de língua portuguesa se situe entre os 5 a 10%. Além das línguas locais, as línguas mais faladas são o Afrikaans, o Alemão, o Inglês e o Português.
Ana Grácio Pinto