Desde que, há um ano, tomou posse enquanto secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro tem procurado “conhecer e avaliar as ansiedades e prioridades” dos agentes económicos portugueses pelo mundo. A organização do “I Encontro de Investidores da Diáspora” é mais um passo nesse sentido, para além de outras justificações que aponta em entrevista.

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Entrevista a secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro

Como surgiu a ideia de organizar o I Encontro de Investidores da Diáspora?

O “I Encontro de Investidores da Diáspora” é o corolário natural e lógico de mais de dez meses de trabalho e atividade que temos desenvolvido, apostando na dinamização e reforço dos conteúdos e atribuições do Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora, com o objetivo de identificar micro e pequenas empresas da Diáspora e de referenciar o fenómeno do associativismo empresarial e da existência de Câmaras de Comércio operantes. Neste contexto, foi possível desenvolver um trabalho exaustivo, em estreita coordenação com a nossa rede diplomática e consular, de criação de uma base de dados, que naturalmente se encontra em permanente atualização, onde constam já cerca de 7 000 micro/pequenos agentes económicos, que desenvolvem as suas atividades empreendedoras num universo muito amplo e diversificado de áreas e setores bem como 66 Câmaras de Comércio. Tudo com o objetivo de apoiar, acompanhar e facilitar os fluxos de investimento de base comunitária bem como de encaminhar e orientar as iniciativas de internacionalização de empresas, da referida dimensão, de base regional.

Que mais-valias é que os participantes podem recolher da viagem a Portugal para participarem neste evento?

Acredito que o “I Encontro de Investidores da Diáspora” vá ao encontro das preocupações, dúvidas e interesses diretos dos participantes com o objetivo de lhes proporcionar e facultar informação, conhecimento e oportunidades de debate alargado sobre temáticas de relevo para as múltiplas áreas de atividade onde se inserem e que, em Sintra, virão representar. Os quase 300 participantes guardarão, sem dúvida, uma visão mais integrada e identitária do valor do mercado que representam e a sua importância estratégica num mundo globalizado e cada vez mais competitivo, inovador e exigente e irão encontrar um ambiente muito favorável ao networking, ao debate, à partilha de experiências, à identificação de afinidades, à tomada de consciência das complementaridades entre as diversas realidades da Diáspora, ao conhecimento e também ao diálogo intercultural bem como ao desejável lançamento de bases de eventuais parcerias de negócio.

Quais foram os critérios seguidos na elaboração do plano de atividades do Encontro?

O programa do evento foi pensado e proposto por forma a abranger disciplinas múltiplas com uma tónica muito forte nos setores alvo de receção e acolhimento de investimento, de financiamentos e apoios, de interação com a realidade municipal na lógica a que já aludi e nas dinâmicas do associativismo empresarial que acreditamos, sinceramente, estão a renascer um pouco por todo o mundo onde existe empreendedorismo de matriz portuguesa. Procurou-se ser direto e objetivo na conceção do programa, que afinal reflete a experiência de quase um ano de atividade do GAID e os testemunhos, impressões e sensibilidades que, em paralelo, tenho recolhido durante as viagens de trabalho efetuadas junto das Comunidades Portuguesas nas quais sempre procuro conhecer e avaliar as ansiedades e prioridades dos seus agentes económicos e responsáveis associativos.

Os empresários na diáspora olham para o investimento em Portugal como um ato de simpatia para com o país de origem ou vêem-no cada vez mais como uma estratégia positiva para o seu negócio?

Persiste muito, em diversos quadrantes da Diáspora a lógica do denominado “mercado da saudade”. Esta visão empresta por vezes matizes muito próprias na abordagem que, quem está fora, faz a Portugal, quando pensa em investir, em regressar, em apostar no pequeno negócio ou empresa na sua terra de origem, de onde, um dia longínquo partiu. Trabalhamos em estreita coordenação com o gabinete do secretário de Estado da Internacionalização que detém a tutela da AICEP. Com o secretário de Estado Jorge Oliveira partilhamos um objetivo comum de atração de investimento para o nosso país. Temos a perspetiva do encaminhamento de projetos, que ultrapassam a fasquia do micro/pequeno investimento, e lançámos uma rede de “pontos focais” interministeriais que connosco trabalham, numa lógica de estreita interação, representando departamentos do Governo que, em razão da matéria são competentes em muitas áreas que interessam ao investidor que nos procura como o turismo, a segurança social, os assuntos fiscais ou os processos de candidaturas a fundos comunitários de apoio ao investimento e à internacionalização.

Na sua perspetiva, que setores de atividade portugueses terão mais a ganhar com maior investimento em Portugal por parte dos empresários na diáspora?

Pelo que até agora temos tido ocasião de observar, conhecer e avaliar, os setores económicos que mais interesse têm despertado junto do investidor da Diáspora reportam-se aos serviços, com particular destaque para o turismo e formação de excelência, restauração, agroalimentar, logística, Património do Estado e recuperação imobiliária, regimes de concessão de espaços públicos para instalação de atividades comerciais e indústria. Mas começamos também a registar abordagens, até em parcerias com grupos estrangeiros, nas áreas das energias renováveis, da instalação de start ups e aproveitamento de condições vantajosas e mais competitivas que a nível de cada Município se oferecem, nomeadamente no contexto de incubadoras de empresas geradoras de ambientes muito favoráveis à inovação, conhecimento e novas tecnologias. Com expressão muito significativa de valor bruto potencial detetam-se projetos de instalação de centros de negócio, parcerias entre start ups e de uma propensão crescente de aposta no mercado português por parte de grandes investidores luso-brasileiros, determinada por circunstâncias de conjuntura económica e de mercado conhecidas mas que assumem, para Portugal perfil estrutural e de continuidade com forte impacto, na globalidade, na nossa economia e na criação de emprego e utilização de mão-de-obra qualificada nacional.

Incentiva os empresários portugueses no estrangeiro a procurarem os serviços do Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora? Porquê?

Porque o Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora é, de facto, o eixo de toda a atividade desenvolvida em áreas muito específicas e que vieram emprestar renovados paradigmas na abordagem da realidade e das políticas de e para as Comunidades Portuguesas.

Já está decidida a organização de novas edições deste evento ou depende dos resultados obtidos nesta primeira edição?

A verdade é que existe sempre uma primeira vez para todos os projetos e iniciativas. Acredito nos bons resultados desta iniciativa. Por isso decidimos com firmeza realizar este “I Encontro de Investidores da Diáspora”. Estou certo que, em 2017, o “II Encontro” terá lugar noutro ponto do País e que candidatos a recebê-lo e a associarem-se à sua organização como sucedeu com Sintra, neste ano, não faltarão. Vamos sempre aprendendo com a experiência e colhendo frutos das iniciativas concretizadas, aperfeiçoando, melhorando e projetando ainda mais a dimensão do empreendedorismo de matriz “Diáspora” e a sua integração na lógica de uma economia globalizada e interdependente.

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