São todos seniores e a média de idades ronda os 75 anos. Vieram sobretudo da América do Sul para durante cerca de duas semanas percorrerem Portugal de norte a sul, revisitando lugares que não viam há mais de 50 anos.

PorTUGAL cORACAO

Treze emigrantes portugueses de longa duração, provenientes da Argentina, Brasil, Venezuela, Moçambique e África do Sul, passearam pelo país que há muito deixaram e aonde a maioria não voltou depois de partir, ainda muito jovem.

Luciano Silveira estava longe de imaginar que poderia percorrer Portugal. Aos 78 anos, feitos precisamente no dia em que terminou a experiência de 12 dias proporcionada este mês pelo programa da Fundação Inatel “Portugal no Coração”, revelou à agência Lusa que leva um conhecimento do país “que não é definitivo”.

“Sou português nascido na ilha Terceira e isto foi uma coisa que nunca esperei vir ver. Eu não conhecia nada, fiquei a conhecer agora”, disse, com os olhos marejados.

Luciano saiu dos Açores aos 13 anos, depois de um oficial da base das Lajes o ter levado para a América, para fazer um curso de cozinha. A vida começava a ser traçada naquele momento, embora não o soubesse. Foi depois à tropa, esteve em Angola e voltou aos Açores, mas, ao perceber que não queria ficar “naquela terra tão pequena”, foi “correr mundo”.

Passou pela África do Sul e acabou por regressar a Moçambique, onde ficou até hoje, dedicando-se à cozinha, a sua primeira paixão, numa casinha na província de Nampula.

Apesar da experiência dos últimos dias e da gratidão que sente por aqueles que lhe proporcionaram o passeio, está desejoso de regressar: “Estão à minha espera, sabe. Estão à espera que o ‘ti’ Luciano vá tratar das encomendas que já tem de leitão para o Natal. Estavam com medo que eu não regressasse do passeio”.

Aos domingos, é dia de assado e a família de João Almeida e Maria do Carmo junta-se para o almoço em Buenos Aires. Os três filhos e os netos enchem a casa, onde sempre se falou português. À mesa são servidos os produtos que João, reformado há uma década, cultiva na quinta.

João tinha 14 anos quando emigrou de Fornos de Algodres para a Argentina. Há 66 anos que vive no país, onde conheceu a mulher e mãe dos seus filhos, natural de Seia e com quem só se cruzou em Buenos Aires.

“Estive 52 anos sem vir a Portugal”, disse Maria do Carmo. Emocionada, foi contando que chorou muito, demasiado, quando chegou à Argentina, mas como os pais já lá estavam emigrados não teve alternativa, apesar de muito se ter arrependido.

Habituou-se à vida e, pelos filhos e netos e também pela sua idade, 77 anos, e a do marido, 81, não pensa voltar para Portugal. Mas se tivessem outra oportunidade como estes últimos 15 dias não hesitavam.

“Há 66 anos que estou na Argentina, só cá tinha vindo uma vez. É uma maravilha por todo o lado que a gente vá. Para a idade que a gente tem, ver isto, Nossa Senhora, é o melhor do mundo”, reconheceu.

“Portugal no Coração” comemora 20 anos

O programa “Portugal no Coração” comemora este ano a vigésima edição e por ele já passaram 797 participantes, sendo destinado a pessoas com 65 ou mais anos, residentes fora da Europa, que não tenham visitado Portugal há menos de 20 anos.

“Durante estes anos as entidades envolvidas têm garantido que haja a possibilidade de os emigrantes de longa duração, com décadas de afastamento da sua terra natal, possam voltar às origens”, disse à Lusa José Alho, vogal do conselho de administração da Fundação Inatel.

Para o responsável, é “uma enorme felicidade” poder proporcionar a experiência a pessoas que, por diferentes adversidades, financeiras ou não, ficaram impedidas de voltar a ver a terra onde nasceram e cresceram.

Na edição dos 20 anos do “Portugal no Coração” os participantes visitaram esta semana vários locais emblemáticos em Viana do Castelo, Porto, Braga, Lisboa, Cascais, Sintra, Fátima, Aveiro, Caldas da Rainha, Óbidos, Setúbal, Faro, Portimão e Lagoa.

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