A cidade francesa de Hendaia acolhe, até 10 de novembro, a exposição "Sala de Espera", da autoria do fotógrafo francês Gabriel Martinez, que retrata o "drama humano" da chegada dos portugueses à estação de caminho-de-ferro de Hendaia, nos anos 60.
A mostra é uma das exposições que acompanha o colóquio sobre o primeiro centenário do acordo de mão-de-obra franco-português, que hoje se realiza na câmara municipal da cidade que faz fronteira com a Espanha.

Sala de espera
As imagens, a preto e branco, numa sala de espera e no cais da estação, espelham o cansaço da viagem entre Portugal e França, com homens, mulheres e crianças a dormirem em bancos, braços cruzados em cima de sacos, e muitas malas espalhadas pelo chão ou em cima de mesas.
"Eram portugueses que estavam reunidos numa grande sala de espera. Lembro-me perfeitamente. Estavam lá de passagem. Era um drama humano, um grande drama humano, famílias inteiras com a casa às costas", descreveu à Lusa Gabriel Martinez.
As fotografias remontam "há uns 50 anos", recorda o francês de 79 anos, que realizou o trabalho com uma máquina fotográfica rolleiflex, apenas numa manhã, datada "por volta de 1969" no livro "Sala de Espera", no qual foram publicadas as imagens, em 2008.
"Havia um senhor na estação de Hendaia que trabalhava para os caminhos de ferro e acolhia estas pessoas. Ele recebia-as, dava-lhes comida, acho que fazia isso para a Cruz Vermelha suíça. Foram eles que lhe pediram uma reportagem e ele contactou-me", recordou o fotógrafo hoje reformado.
Gabriel Martinez guardou "uma série de provas em pequeno formato", mas as imagens ficaram esquecidas durante cerca de 40 anos numa gaveta.
"Guardei os negativos e não fiz nada. Depois, encontrei uma série que mostrei ao meu editor que ficou entusiasmado e quis fazer um livro. Elas estavam numa caixa, dentro de uma gaveta, nem sabia onde estavam os negativos porque tinha vendido o meu negócio e fui para a reforma e pensava que os tinha perdido", explicou.
Para fazer o livro, o fotógrafo teve de procurar os negativos e só "ao fim de três, quatro meses" é que os encontrou.
Em coordenação com Manuel Dias Vaz, presidente da Rede da Aquitânia para a História e Memória da Imigração, Gabriel Martinez publicou as fotografias no livro "Sala de Espera", da editora francesa "Atlantica", e as imagens foram adquiridas pelo Museu da Aquitânia de Bordéus que tem organizado várias exposições itinerantes.
"Há uma força humana e uma grande força simbólica nas fotografias. Há três grandes estações em França simbólicas da imigração portuguesa: Hendaia, Austerlitz e Bordéus. A estação de Hendaia foi o ponto de entrada da nossa comunidade em França e noutros países da Europa. O caminho de ferro, o Sud Express, que a gente chamava na altura o comboio-nação, historicamente ligava Lisboa e Paris, a que se juntou, nos anos 60, uma composição que vinha do Porto", explicou à Lusa Manuel Dias Vaz.
A cidade de Hendaia recorda hoje o primeiro centenário do acordo de mão-de-obra franco-português, dia em que se celebram os 100 anos do documento, com mesas-redondas em que participam especialistas da história da emigração portuguesa para França, como Marie-Christine Volovitch-Tavares, Cristina Clímaco, Vítor Pereira, Ivete dos Santos, Laurent Dornel e Manuel Dias Vaz.
O colóquio é organizado pela Rede da Aquitânia para a História e Memória da Imigração, pelo Comité Nacional Francês de homenagem a Aristides de Sousa Mendes e pela cidade de Hendaia.
In Diário Digital