O livro que conta a história do português que ficou conhecido, na Alemanha, como “o imigrante um milhão”, nos anos 1960, vai ser apresentado no Consulado-Geral de Portugal em Paris, a 22 de setembro.
Foi a 10 de setembro de 1964, na estação de Colónia-Deutz, que Armando Rodrigues de Sá, natural de Vale de Madeiros, distrito de Viseu, recebeu o título de milionésimo imigrante na Alemanha, numa receção que incluiu banda de música e até a oferta de uma motorizada que hoje se encontra na Casa da História de Bona.
O título “imigrante um milhão” simbolizou a expansão económica da antiga República Federal da Alemanha e os chamados ‘gastarbeiter’, ou seja, “trabalhadores convidados” ao abrigo de contratos bilaterais entre o Governo alemão e países exportadores de mão-de-obra como Portugal, Itália, Espanha, Grécia, Turquia, Marrocos e Tunísia.
“Muitos alemães pensam que o imigrante um milhão foi um turco porque existe um filme em que um turco ia atrás do imigrante um milhão. Como os turcos são o grupo mais visível [na Alemanha], decidimos abrir o livro para outros imigrantes e falar também sobre os turcos”, contou à Lusa Svenja Länder.
A historiadora vai apresentar a obra em Paris, cerca de dois anos depois de ter passado na capital francesa com o neto de Armando Rodrigues de Sá, António de Sá, com quem refez a viagem de comboio do avô, na sequência das comemorações do cinquentenário da sua chegada a Colónia-Deutz e da celebração do Acordo de Recrutamento de Trabalhadores Portugueses entre Portugal e a Alemanha.
“Há dois planos temporais no nosso livro: um é em 1964, no tempo do Armando, um ícone da imigração, e o outro é em 2014 quando fiz a viagem com o neto”, explicou a historiadora, precisando que durante essa viagem entrevistou emigrantes portugueses dos anos 1960 e outros mais recentes cujos relatos integram o livro.
Além de revisitar o percurso das primeiras vagas de portugueses que emigraram para a Alemanha e o da comunidade turca que vive no país, o livro aborda, ainda, os movimentos migratórios atuais e os refugiados de hoje.
“Temos entrevistas com quatro portugueses que emigraram para Berlim em 2014 e que falam de uma Europa sem fronteiras, da Ryanair, etc. Escrevemos este livro em 2015, durante a nova onda de migração para a Alemanha, e decidimos incluir um rapaz da Síria”, concluiu Svenja Länder, em referência a Sallar, de 25 anos, que pagou 10 000 euros para ir para a Alemanha, numa viagem em que passou pela Turquia, Grécia, Itália e Suíça.
A obra ‘A Vida Numa Mala – Armando Rodrigues de Sá e Outras Histórias’ foi lançada em abril, pela Oxalá Editora, e já foi apresentado em Berlim, Porto, Lisboa, e Hamburgo.