“É uma questão a que temos de votar à carga, na revisão do Estatuto.” A afirmação é de Miguel Albuquerque, que defende a necessidade de ter na Assembleia Legislativa da Madeira deputados que representem as comunidades de emigrantes madeirenses. O presidente do Governo regional falava, ontem no Fórum Madeira Global, que está a decorrer na sala de conferências do Casino da Madeira.

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Mas, na linha de Adolfo Brasão, presidente da Comissão de Política Geral da ALM, Miguel Albuquerque diz que, para o conseguir há muros a derrubar em Lisboa.
Em causa estão as objeções dos políticos nacionais e do Tribunal Constitucional a que tal se concretize. Mas Albuquerque não tem dúvidas: “É óbvio que as comunidades deveriam estar representadas” na ALM.

É igualmente importante que os emigrantes, em especial os de segunda e terceiras gerações, participe na vida política das comunidades em que se inserem. O Presidente do Governo defendeu que isso é muito relevante para as próprias comunidades e para a Madeira. São os interesses de ambas que são defendidos.

José Nascimento, advogado descendente de madeirenses na África do Sul, disse que a reivindicação de as comunidades estarem representadas politicamente na Madeira, já tem 24 anos e revelou que, no País em que nasceu, os madeirenses participam politicamente. Mas, ainda assim, gostaria de ver a representatividade dos emigrantes aumentar, nomeadamente no parlamento nacional: “Gostaria de ver o círculo eleitoral no dobro.” São quatro deputados, que representam cinco milhões de emigrantes: “Um terço dos portugueses”.

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De um ponto de vista histórico e sociológico, há uma razão para a fraca participação política dos emigrantes madeirenses, nas terras que os acolheram: trabalho.
Como destacaram vários dos membros do I Painel, intitulado ‘Política em Madeirense’, os emigrantes foram para trabalhar e essa foi a sua grande aposta. Algo afirmado por Ana Cristina Monteiro, advogada nascida e formada na Venezuela, mas há nove anos a residir na Madeira.

Paulo Porto, outro advogado, residente em São Paulo, lembrou os conselhos que o pai lhe dava, no sentido de deixar “a política para os políticos”.
Nessa altura, o Brasil, tal como Portugal, que haviam deixado, vivia sob uma ditadura, que em muito condicionava a percepção do que deveria ser a intervenção na sociedade.

Dá dimensão à Região
“A Madeira só tem a ganhar com esta caminhada conjunta”, afirmou Sérgio Marques, referindo-se aos encontros, que juntam os madeirenses residentes na ilha eos que vivem no estrangeiro.
O governante, que tem a tutela da emigração, lembrou que o Fórum Madeira Global nasceu por sugestão dos emigrantes durante o Encontro realizado na Madeira, no ano passado. Sérgio Marques afirmou que os conterrâneos emigrados “valorizam a Madeira tornando-a verdadeiramente Global”.

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Criar uma rede como Israel ou a Irlanda
A referência à organização dos judeus, que vivem fora de Israel, serviu para ilustrar o que deve ser feito pelos madeirenses. Primeiro foi o presidente do Governo, quem defendeu a necessidade de se criar uma rede de acção, como Israel e a Irlanda fizeram.

Uma rede com influência económica e política, uma vez que a afectiva e cultural está garantida, como, aliás testemunharam vários dos presentes.

Um deles foi José Nascimento que exemplificou com o que aconteceu quando Portugal ganhou o Europeu de Futebol. Aquele lusodescendente recebeu telefonemas de familiares do Canadá e da Austrália, a darem conta do contentamento dos madeirenses nas cidades em que se encontravam.

O mesmo madeirense, como se afirmou, por várias vezes, também se referiu à comunidade judaica na África do Sul que, sendo bem menor, em número do que a Madeirense, tem uma representatividade muito maior. O poder dos muçulmanos também é bem maior, mas, neste caso, trata-se de uma comunidade bem mais numerosa.

Ainda assim, a influência dos madeirenses é crescente, com a maior formação das segundas gerações, até porque é uma comunidade que cresce lentamente e só por essa via. Não há nova emigração para aquele País, garantiu.

Existe falta de informação e o consulado fica distante
Uma das queixas ouvidas na abertura do encontro repete-se há muitos anos: existe falta de informação do que se passa na Região, junto das comunidades. Isso conduz a algum desinteresse, nomeadamente, pela participação na vida da Madeira.

Por exemplo, referiu Ana Cristina Monteiro, para participar politicamente é preciso ir ao consulado, que fica longe e demora. Um factor que desincentiva a um maior envolvimento.

A este propósito, Miguel Albuquerque destacou o papel positivo que as novas tecnologias e as redes sociais electrónicas desempenham, ao “aproximarem” madeirenses”.

in Diário de Noticias