A comunidade madeirense em New Bedford, nos Estados Unidos, a partir de amanhã poderá sentir-se um pouco mais perto da Madeira, graças à inauguração de um mural que dispõe os costumes e alguns itens característicos da ilha.
Esta homenagem nasceu das mãos de Cristiana de Sousa, ou Andorinha como assina em homenagem ao avó, e surgiu de um projecto que a madeirense natural da Camacha começou a desenvolver no início desde ano.
‘Da Origem’ é um projecto de Arte Pública que pretende levar às comunidades portuguesas no estrangeiro imagens da sua terra-natal com o intuito de as aproximar do lugar que deixaram, explicou a artista licenciada em Arte e Design para o Espaço Público em Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. “O meu instinto levou-me em primeiro lugar a querer contactar com as comunidades madeirenses por uma questão de afinidade, pelo facto do meu trabalho artístico desde sempre ter sido um reflexo da cultura popular e tradicional madeirense”, referiu Andorinha.
O ‘Da Origem/New Bedford’ é o primeiro de muitos murais que a pintora pretende fazer noutras comunidades de madeirenses espalhadas pelo mundo.
Foi a partir do Centro das Comunidades Madeirenses do Funchal que Cristiana de Sousa estabeleceu o contacto com o Clube Madeirense do Santíssimo Sacramento de New Bedford. Depois da ligação feita, o Clube ficou receptivo à ida de Cristiana aos Estados Unidos e fizeram questão de cobrir todos os custos associados. O mural tinha era de estar pronto para a ‘102º Festa do Santíssimo Sacramento’, um grande arraial madeirense que se realiza naquele lugar e que atrai centenas.
“Comecei por entrevistar alguns membros do Clube para saber quais as melhores memórias que eles tinham da Madeira para recolher imagens para o processo criativo, mas rapidamente cheguei à conclusão de que as informações que eles me estavam a dar eram precisamente aquelas que eu tento sempre evitar nas representações que faço relacionadas com a Madeira: os clichês!”, conta a artista. “Como poderia incorporar uma estrelícia não sendo ela uma planta endémica, quando temos o maçaroco? Ou pintar uma faixa vermelha no traje masculino quando os registos etnográficos da Ilha não revelam isso?”
Para atender aos pedidos do Clube e também deixar a sua cunha pessoal no trabalho, foi preciso um jogo de equilíbrio entre a identidade e os clichês e a pintora acabou por ter de fazer algumas cedências no sentido de incorporar a paisagem que muitos aclamavam.
O mural já terminado foi criado com a ajuda do namorado, Manuel Rechestre e será inaugurado esta quinta-feira, às 20 horas, na 102ª edição da Festa do Santíssimo Sacramento de New Bedford.
A entrada principal do Clube dispõe agora de uma nova ‘cara’, que combina a paisagem madeirense e um brinquinho. “Quando penso na Madeira, imagino-a como uma montanha que nasce do mar e que se ergue até ao céu sob a forma de um triângulo. Uma vez que o brinquinho também tem a mesma forma, o resultado final é uma junção dos dois”, descreve. “Em relação à paisagem, há a predominância dos poios por toda a imagem, sendo que na serra crescem os maçarocos e junto ao mar as bananeiras.”
As levadas não ficaram esquecidas e a obra tem incorporada uma corrente de água que as representam e ainda duas igrejas que Cristiana de Sousa considerou representativas da paisagem que se obtém do Funchal, sendo estas a Sé do Funchal e a Igreja da Nossa Senhora do Monte. “Junto à igreja do Monte está a decorrer um arraial e quem segura nas bandeiras são dois vilhões que são a representação dos homens do Clube do SSS. Por fim, erguem-se as bandeiras que são importantes para os madeirenses de cá como a bandeira dos E.U.A., a bandeira de Portugal e, como não poderia deixar de ser, a bandeira da RAM”, continua.
Ser emigrante não é fácil, principalmente quando as saudades de casa começam a ser mais fortes. Este mural tem emocionado muitos madeirenses que vivem naquele local e até pessoas que nunca foram à Madeira, mas que têm um amor pela ilha, conta a artista. “A receptividade das pessoas foi muito melhor do que alguma vez esperei. Muitos emocionam-se, agradecem-me por ter vindo trazer um bocadinho de casa”, referiu ‘Andorinha’.
in Diário de Noticias