Ei-los que partem… Marco Meireles (médio), Filipe Aguiar (médio) e Carlos Leonel (avançado) são profissionais de futebol com origens madeirense que foram encontrar no estrangeiro um lugar ao sol e as oportunidades que não tiveram na terra onde nasceram.

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Jogam todos actualmente na antiga colónia de Macau, mais precisamente no Benfica local, equipa que disputa o campeonato daquela região pertencente à República Popular da China que, juntamente com Hong Kong possui um estatuto administrativo específico, tendo de forma decisiva contribuído para a conquista do tricampeonato.

Gozam actualmente na região uns dias de férias junto dos familiares e amigos antes de partirem de novo para o oriente, dia 18 de Julho, onde vão participar na pré-eliminatória da liga dos campeões asiática que termina a 24 de Agosto e onde competem, para além do Benfica de Macau o Rovers e o Dordoi.

Com convite para continuar a vestir novamente o emblema das águias de Macau, Marco, Filipe e Carlos deverão prolongar o seu vínculo contratual mas não rejeitariam de regressar às competições nacionais caso surgisse uma oportunidade de trabalho.

Conheça um pouco as histórias das suas vidas destes campeões que foram encontrar na Ásia e na região de Macau o local para fazerem aquilo que tanto gostam, fazendo do futebol a sua profissão.

Marco Meireles, 26 anos, fez a sua formação no Porto, mas depois ingressou no Nacional ainda júnior, fazendo na Madeira o seu 1º contrato como profissional, na razão “porque sempre pensei que seria mais fácil ser profissional no Nacional do que no Porto onde existe muita concorrência”.

Apesar de ter a promessa de incluir o plantel profissional de então, liderado por Jokanovic, acabou por ser emprestado à Associação Desportiva de Machico onde alinhou durante 4 temporadas, transferindo-se depois para o Ribeira Brava, mas “devido à falta de pagamentos tive que emigrar para a Finlândia, onde joguei na II Liga. Depois fui para o Brasil até surgir a oportunidade de ingressar no Benfica de Macau onde me encontro bem”.

Apesar do actual clube ser cumpridor “gostava que surgisse uma oportunidade no meu país e poder demonstrar o meu valor numa liga profissional, que, até ao dia de hoje, nunca me foi dada”, lamenta, mas motivação é coisa que não lhe falta e “vai continuar a aguardar e esperar que essa oportunidade aconteça”.

O médio que foi elogiado por Henrique Nunes pelo seu recente desempenho, nivela o campeonato de Macau onde competem 10 equipas com uma II B, havendo “5 equipas boas e compostas por jogadores profissionais e outras 5 que não são tão competitivas, mas o que gostava era ser profissional em Portugal”.

Já Filipe Aguiar, 25 anos, fez formação no Marítimo e como sénior jogou em Espanha e depois regressou à região e ao Ribeira Brava onde foi campeão da Série Madeira. Seguiu-se Açores num projecto de subida onde foi campeão pelo Sporting Guadalupe, depois Malta, Brasil e através do Marco Meireles ingressou no Benfica de Macau.

Apesar do quadro competitivo não ser muito elevado, Filipe Aguiar considera que “trabalhamos diariamente para estarmos sempre a evoluir” apesar dos macaenses “ não serem muito adeptos do futebol, devido à falta de marketing de quem gere o futebol”.

A exemplo de Marco, Filipe Aguiar espreita uma oportunidade para regressar ao futebol lusitano, “mesmo que fosse numa II Liga”.

Carlos Leonel, com 28 anos de idade, é o ‘mais velho’ do trio de campeões, possuindo um estatuto que não sendo natural de Macau também não é considerado estrangeiro. É avançado e com 24 golos foi o melhor marcador do campeonato.

Fez também formação no Pontassolense, Marítimo e Nacional e não sendo opção para integrar os profissionais ‘alvi-negros’ “ regressei ao Pontassolense onde fiz um bom campeonato, orientado pelo Lito Vidigal”. Ingressei posteriormente no Ribeira Brava e depois devido a lesão no joelho optei por tirar um curso para salvaguardar o meu futuro”.

Em Coimbra estudou e jogou futebol e “ como pensei que ainda tinha condições para poder jogar e ser feliz, quando surgiu a oportunidade Macau, agarrei-a, e passados dois anos é bem visível a evolução que o futebol está a ter”, considera, sendo que “esse crescimento está associado ao que se está a passar na China, país que se quer tornar numa próxima potência mundial”.

Carlos Leonel apesar de sentir-se “bem numa região fértil”, não rejeita a hipótese de jogar na região se para o efeito for convidado, mas lamenta que os clubes madeirenses não apostem no jogador local. “Não vejo isso com algum rancor, até porque já tive oportunidades mas talvez não estivesse preparado para assumir um desafio desses ou entrar numa I Liga”, reconhece, ao mesmo tempo que acha ser “importante defender o jogador local”, dando como exemplo “ o que se passa na China onde existe a obrigação duma quota de jogadores da localidade, no mínimo integrarem os respectivos plantéis”. Carlos Leonel defende também que “é importante para a mística dos clubes haver jogadores da região”.

O mais jovem do trio de campeões tem uma ambição que não esconde. Filipe Aguiar quer “chegar chegar a uma liga profissional para depois poder disputar uma Liga Europa”, esperando que essa ambição vs sonho se concretize pois se tal acontecer “ é sinal que o meu trabalho deu frutos”.

Opinião do técnico

Henrique Nunes analisa pupilos

O treinador que esta temporada se sagrou campeão de Macau é uma figura bem conhecida no futebol português, com passagem por vários clubes da II Liga, tendo inclusive orientado o Feirense na I Liga Profissional, cujo plantel era (então) formado exclusivamente por jogadores portugueses.
Instado a analisar o potencial dos seus pupilos, comentou as performances de profissionais que bem conhece adiantando que qualquer um tem potencial para jogar numa II Liga Portuguesa e depois, com da participação de um quadro competitivo muito mais exigente poderem dar o ‘salto’.

Marco Meireles:
“Como médio foi para mim uma agradável surpresa, tendo realizado um grande campeonato. Joga a ‘8’ e distingue-se dos demais pela qualidade e potencialidade que possui. Já devia ter uma oportunidade para jogar em Portugal a um nível elevado, mas infelizmente tem passado despercebido”.

Filipe Aguiar:
“Não foi tão preponderante na equipa como Marco Meireles, pois foi a primeira época que fez e o último a chegar e ficou um pouco condicionado pois só podem alinhar 4 estrangeiros. Mas foi um elemento extremamente importante devido à sua polivalência, pois para além de médio esquerdo, joga nas alas.”

Carlos Leonel:
“É o jogador mais antigo e por isso goza de um estatuto diferente dos restantes. Finaliza bem e quando está bem sob o ponto de vista psicológico e consigo próprio assume-se como instinto ‘matador’. Fez uma grande primeira volta mas na segunda oscilou e não esteve tão bem.”

in Diário de Notícias da Madeira