O fiasco da ligação aérea Funchal-Caracas deixou a comunidade madeirense radicada na Venezuela envolta num sentimento de grande desilusão, com o diretor regional a criticar a postura de Governo de Lisboa em realção à Comunidade.
Apesar de não ter participado no processo, no qual muitos criticarem o desempenho do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, e também o silêncio em que se resguarda, o diretor regional das Comunidades Madeirenses e Cooperação Externa, Rui Abreu, tem sido contactado pelos membros da diáspora madeirense.
Rui Abreu nota que que o fracasso de voltar a ligar a Madeira à Venezuela diretamente, mesmo que através de um voo charter, aliado ao silêncio dos protagonistas desta iniciativa, “abonam em nada a confiança que deve haver entre o Governo e a nossa Diáspora”.
Para Rui Abreu, “a comunidade madeirense foi enganada e desconsiderada, repetidamente”, em todo o processo relacionado com o “voo direto Caracas-Funchal-Caracas, uma ligação necessária, que a comunidade merece e que sempre defendemos”.
Em jeito de retrospetiva, o governante madeirense observa, em declarações ao JM Madeira, que, “curiosamente, o voo foi anunciado a 26 de julho, dois dias antes do Fórum das Comunidades, para começar a 21 de agosto”. O momento escolhido para o anúncio causou alguma estranheza, tendo também suscitado muitas dúvidas quanto à sua execução, uma vez que “nem havia bilhetes à venda, nem o voo estava autorizado pelo Instituto Nacional de Aviação Civil da Venezuela (o que só aconteceu no mês de setembro), e a operação não estava contratada e garantida financeiramente”.
Rui Abreu lembra que o secretário de Estado das Comunidades, “sempre em discurso direto, assumiu a paternidade” da ligação aérea, tendo inclusive sugerido que o voo oferecia uma oportunidade para incrementar “o investimento, a entrada de empresas na Venezuela e a exportação dos nossos produtos”. “Como se isso fosse possível com meia dúzia de voos charters”, ironiza o governante madeirense.
“Depois de falhado o arranque da ligação, o secretário de estado, em setembro, voltou a dizer que estava “muito satisfeito com o desbloqueio dos voos após um processo muito complicado”, recorda ainda o diretor regional das Comunidades Madeirenses, sublinhando que foi “criada a ideia, errada, de que seria uma ligação regular, mas afinal eram apenas 12 voos entre agosto e janeiro”.
“E foi-se enganando a comunidade, anunciando datas, sucessivamente canceladas. 26 de agosto, meados de setembro, 16 de outubro e por altura do Natal. Chegámos a janeiro e nada. Zero”, lamenta.
“Como sempre defendemos, incluindo o senhor presidente do Governo Regional, a TAP é que deve realizar uma operação direta semanal, regular, aproveitando as ligações Lisboa-Caracas”, reitera o governante madeirense, observando que a “justificação apresentada pela TAP, falta de equipamentos ou aviões, não convence, pois é necessário mais nenhum avião. É só fazer uma escala no Funchal de uma hora, com o mesmo avião”.
Recordando a ótica do Governo Regional, Rui Abreu defende que a “TAP, uma empresa pública na qual já foram injetados 4.000 milhões de euros, de dinheiros dos nossos impostos, tem a obrigação de servir a nossa Diáspora, nomeadamente a da Venezuela. Comunidade que já deu e continua a dar muito à Madeira e ao País”.
“Sendo a TAP uma empresa pública, o que o Governo da República poderia e deveria fazer era empenhar-se em garantir a existência desta escala no Funchal. Isso sim seria um grande serviço prestado aos madeirenses residentes na Venezuela. Estes emigrantes não podem ser tratados como portugueses de segunda”, remata.