No rescaldo dos motins que começaram na África do Sul, no passado dia 9 de julho, com a detenção do ex-presidente, Jacob Zuma, e que deixaram a segunda maior comunidade da Diáspora Madeirense inquieta, perante a escalada da violência e dos saques, que ocorreram em algumas zonas do país, o diretor regional das Comunidades e Cooperação Externa, Rui Abreu, reuniu, a 21 de julho, com dois representantes da ALSAP (Associação Luso-Sul Africana Portugal), para fazer um balanço da situação.
“A nossa perspetiva é que a situação está a acalmar, desde que o governo de Cyril Ramaphosa enviou militares para a rua, para controlar os bairros afetados, quer em Kwazulu-Natal quer em Gauteng (Joanesburgo)”, começou por dizer Rui Abreu, salvaguardando que “a situação ainda não acabou totalmente”. O governante referiu que “neste momento as coisas parecem estar a acalmar, havendo apenas situações pontuais”
Neste sentido, Rui Abreu olha com “otimismo e confiança para a evolução da situação na África do Sul”, esperando que tudo regresse à normalidade o mais brevemente possível.
Uma opinião partilhada pela presidente da ALSAP, Analiza Sousa, e pelo vice-presidente da mesma instituição, Manuel Costa. “Felizmente neste último fim-de-semana, as coisas acalmaram, e correram bem, porque as autoridades sul-africanas enviaram 25 mil soldados para as ruas”, constatou Analiza Sousa, que aproveitou a reunião para falar sobre o sentimento geral da comunidade madeirense radicada na África do Sul.
“As pessoas estão com esperança que a situação normalize. Mas, ao mesmo tempo sentem receio, devido à incerteza do dia de amanhã”, referiu, confessando que “não se consegue esquecer, de um dia para outro, as imagens de violência que vimos nas televisões e nas redes sociais, nem podemos ignorar que cerca de uma centena de empresários madeirenses viram os seus negócios afetados.”
Em relação à população local, lembrou que, os próprios sul-africanos, cansados do caos, estavam dispostos a juntarem-se às forças militares, para que as pilhagens acabassem o quanto antes.
Analiza Sousa entende que tumultos começaram por questões políticas, que associados às crises pandémica e económica, acabaram por levar a pilhagens e violência.
A mesma opinião tem Manuel Costa, vice-presidente da ALSAP. “Existem três grandes razões que levaram a esta situação na África do Sul. A primeira tem a ver com a divisão que existe dentro partido que está no poder, o ANC. A segunda prende-se com a Covid-19 que levou ao encerramento dos negócios, está tudo fechado. A terceira razão tem a ver com o desemprego: a África do Sul tem 70 milhões de habitantes e 30% da população está desempregada”.
Manuel Costa entende que algumas pessoas, intimidades por grupos políticos, foram levadas a que direta ou indiretamente participassem das pilhagens, um fenómeno que tem sido estudado por analistas, e que revelam que por vezes os motins ganham “vida própria”.
Ou seja, entre a multidão, estavam pessoas de classe média, que procuravam bens de luxo, o que se torna difícil de explicar.
“Felizmente, a tropa veio para a rua e as coisas acalmaram progressivamente”, disse. O vice-presidente da ALSAP, referiu, ainda, que “se houver uma estabilidade e um entendimento dentro do partido do ANC tudo irá normalizar”.
Analiza Sousa e Manuel Costa aproveitaram para enviar um abraço fraterno à comunidade e agradecer “o empenho do diretor regional das Comunidades, que desde o primeiro momento, esteve ao lado da comunidade madeirense da África do Sul, a acompanhar a par e passo a evolução da situação”.