Em 2020, ano marcado pelos efeitos da pandemia de covid-19, as remessas enviadas para Portugal pelos emigrantes na Suíça ultrapassaram pela primeira vez, mesmo que por pouco, as enviadas a partir de França.

REMESSAS SUÍÇA

 

De acordo com os dados do Banco de Portugal, as remessas da Suíça chegaram aos 1037 milhões de euros, subindo 4,9% face a 2019, enquanto o dinheiro proveniente de França totalizou 1036,6 milhões, menos 5,2% face a 2019. Em 1996, ano em que começa a série de dados do Banco de Portugal, os valores correspondiam a 567 milhões e 1103 milhões, respectivamente, com a Suíça a representar cerca de metade do montante do valor de França.
O crescimento da Suíça – que tem menos emigrantes portugueses do que França – e a alteração no ranking ocorre num ano em que o valor global das remessas para Portugal desceu, interrompendo um ciclo de subidas que durava há dez anos. Em 2020, o valor global foi de 3612,9 milhões, menos 1,3% do que em 2019 – juntas, Suíça e França detêm um peso de 57% do total. Apesar da descida, este foi o terceiro maior valor de sempre após os 3662,1 milhões do ano anterior e os 3736,8 milhões de 2001.

Inês Vidigal, do Observatório da Emigração, destaca ao PÚBLICO que a entrada de portugueses “tem vindo a diminuir tanto na Suíça como em França”. “Contudo”, acrescenta, “quando olhamos para os dados da população residente em cada um destes países, temos situações distintas: enquanto em França a população residente se tem mantido razoavelmente estável, na Suíça tem decrescido consecutivamente desde 2017”.

Isso poderá indicar, diz, “que não só estão a entrar menos pessoas, como também estão a sair mais”. “Temos indicações através de alguns estudos de que existe algum movimento de regresso de emigrantes portugueses da Suíça, muitos em idade de reforma, e consigo vêm as suas poupanças.” Assim, esta poderá ser uma explicação para a liderança agora ocupada pela Suíça, país onde havia 214 mil emigrantes em 2019, de acordo com os dados do Observatório da Emigração, quando em França o número supera os 600 mil.

Na terceira posição está o Reino Unido que, como refere Inês Vidigal num recente trabalho que publicou sobre as remessas em 2020, foi o país de onde vieram 11% do valor recebido, equivalente a 379 milhões de euros (mais 5,5% em termos homólogos), “facto que comprova a importância que este país adquiriu como principal destino da emigração portuguesa no período pós-crise económica”. Em 2011, ano em que a troika de credores entrou em Portugal, o valor estava nos 105 milhões de euros.

Angola foi outro mercado que conheceu uma subida pela mesma altura do Reino Unido (até mais acentuada), mas, entretanto, essa tendência já se inverteu devido à queda do preço do petróleo e ao ciclo económico negativo que tem afectado este país africano nos últimos anos. Actualmente na quarta posição (ligeiramente acima dos EUA), Angola foi responsável por remessas de 245,5 milhões de euros (menos 1,1%).

Os impactos da covid-19
Sobre a queda geral nas remessas que entraram em Portugal no ano passado, Inês Vidigal refere, no trabalho que elaborou, que a descida “está provavelmente ligada aos efeitos da pandemia, visto que o volume de remessas e de migrações estão fortemente ligadas”. “O aumento do desemprego e da inactividade, em consequência dos confinamentos impostos por muitos países, afecta a capacidade e disponibilidade financeira dos emigrantes para enviarem remessas para Portugal. Alguns emigrantes podem ter contraído o vírus e, por este motivo, terem deixado de trabalhar ou terem mais despesas associadas a questões de saúde”, afirma.

Além disso, explica, a pandemia “está também a afectar os fluxos migratórios, ou seja, com as novas migrações a diminuírem e o aumento do retorno de emigrantes a Portugal, também diminui o número total dos que poderão enviar remessas para o país”. Acresce ainda o facto de que “as restrições impostas por muitos países têm afectado a capacidade física dos emigrantes chegarem aos seus prestadores de serviços de remessas, o que também poderá influenciar os valores enviados”.

in Público