Combater a solidão durante a pandemia mas ao mesmo tempo ajudando os mais necessitados em situação precária de cuidados paliativos distribuindo-lhe materiais básicos de primeira necessidade é o objetivo de um grupo de portugueses no Canadá.
O projeto ´Banco de Refeições: Comida Deliciosa para os Necessitados’, iniciado pelo assistente social José Luís, em parceria com a Casa dos Açores do Ontário e com o Centro Comunitário Casa do Alentejo de Toronto, já distribuiu mais de seis mil refeições distribuídas desde agosto de 2020, o que representa cerca de 500 kg de comida.
“Estamos juntos, é uma mensagem de esperança. Como comunidade estamos a mostrar que com esperança tudo é possível. Com medo não vamos avante. Juntos vamos conquistar esta pandemia”, realçou o luso-canadiano, no país norte-americano desde 1987.
José Luís, que é assistente social há mais de 40 anos, destacou ainda a importância “da ligação da cultura portuguesa à solidariedade para ajudar a comunidade”, pois uma combinação destes aspetos “é sempre fantástico”.
A Casa do Alentejo, fundada em 1983, aderiu ao projeto, começando em meados de agosto de 2020, a confecionar refeições para os mais necessitados, inicialmente num período quinzenal, foi possível preparar 24 refeições, mas com o crescente apoio do setor privado, rapidamente conseguiram juntar todas as segundas-feiras “um grupo de dez voluntários” que atualmente confecionam 45 refeições semanais.
“Começamos por fazer isto não pela necessidade da comunidade, mas sim pelo seu isolamento devido à pandemia, privados das suas famílias, era um mimo. Com a continuidade do confinamento tornou-se numa necessidade”, começou por justificou Teresa de Sousa, porta-voz do grupo e relações públicas da Casa do Alentejo.
“A dirigente explicou que além dos dez voluntários que confecionam as refeições na associação, que inclui “uma sopa, o prato principal, o pão e a sobremesa”. Depois, outros sete voluntários “distribuem as refeições pelos mais necessitados”, que são sinalizados pelo assistente social. “Quem está neste meio sabe que há muitas pessoas a passarem fome. Não dá para todas as pessoas, mas fazemos o melhor que podemos”, acrescentou Teresa de Sousa.
Além do fator solidário através do banco alimentar, este tipo de iniciativa permite aos voluntários “perder o medo devido ao isolamento durante o confinamento”, agora com este trabalho na Casa do Alentejo “sentem-se mais à vontade em prol da comunidade”.
“Uma coisa que nos apercebemos com a pandemia, foi o isolamento das pessoas da terceira idade, em que não tinham contacto com as famílias, e o único contacto que tinham era com enfermeiras, assistentes sociais, e não tinham outras pessoas, perderam as amizades, porque as associações fecharam. Não havia o contacto, muitas delas não usavam a internet, usavam o telefone”, enalteceu José Luís.
Além das refeições distribuídas a pessoas da terceira idade que padeçam de doenças crónicas e que necessitem de cuidados paliativos “um número que está sempre a aumentar”. O projeto também está a assistir 16 famílias com crianças, tendo a mais nova apenas dois anos de idade.
“Queremos que se torne um programa permanente para a nossa comunidade para dar apoio a pessoas com doenças crónicas nos cuidados paliativos, não só com a oferta das refeições, mas também com outros produtos essenciais. Neste momento a nossa prioridade é pessoas que se encontram nos cuidados paliativos e idosos com mais de 80 anos”, frisou o assistente social.
Para já, foi solicitado o apoio ao Governo canadiano, num subsídio que pode atingir os 20 mil dólares (13,4 mil euros) para que a iniciativa não pare ou pelo menos possa ter outra dimensão.
A dirigente da Casa do Alentejo também lançou o repto às outras associações portuguesas no Canadá, que sigam o exemplo daquela organização ou que colaborem.
“Tenho pena de não haver mais pessoas a ajudar, há muitas pessoas com dificuldades, também compreendo que as outras associações portuguesas (no Canadá) não disponham das mesmas condições, mas gostava que houvesse mais apoio, somos tantos na comunidade, mas se houver boa vontade podíamo-nos juntar”, concluiu Teresa de Sousa.
O governo canadiano calcula que existem mais de 480 mil portugueses e lusodescendentes no país.