Traz perto de 260 passageiros, a maioria portugueses, e chega amanhã (1 de dezembro) a Lisboa, vindo de Caracas. É o sexto voo de "facilitação", como os responsáveis consulares e as autoridades madeirenses gostam de lhe chamar, entre a Venezuela e Portugal. Mas a verdade é que com o espaço aéreo venezuelano fechado desde 15 de março, devido à pandemia de covid-19, estes voos promovidos pelo Estado português, através do consulado-geral de Portugal em Caracas, assumem um caráter quase humanitário para a comunidade portuguesa radicada na Venezuela. E, não raras vezes, são.

Voo organizados pelo estado portugues para facilitar viagens da Venezuela

 


Existem casos de pessoas que vêm a Portugal para tratamentos médicos, cada vez mais difíceis de encontrar na Venezuela. Outras que regressam em definitivo, com décadas de histórias de trabalho e pouco mais na bagagem. A maioria não vem de vez, mas precisa mesmo de vir.
"São pessoas de idade, a precisar de tratamento médico que nesta altura na Venezuela tem preços proibitivos para a maioria", resume ao PÚBLICO o cônsul-geral de Portugal em Caracas, Licínio Bingre do Amaral, justificando a importância destes "voos especiais" que o consulado tem montado, ante a situação económica naquele país sul-americano. "Existe uma inflação descontrolada. Uma 'dolarização' da economia que torna mais difícil para as pessoas acederem a cuidados médicos privados", explica.
No total, sem contra com este voo, perto de mil portugueses viajaram entre Caracas e Lisboa nestas operações especiais. As duas primeiras, em Junho e Julho foram asseguradas pela AirFly. Em Agosto, foi realizado um echo flight (voo humanitário) e a TAP realizou os voos seguintes.
Não se trata, reforça ao PÚBLICO no Funchal o diretor regional das Comunidades e Cooperação Externa, Rui Abreu, de um surto migratório ou de repatriamentos em massa. "Estes voos são uma forma de procurar normalizar uma situação anormal, tendo em conta a pandemia e os constrangimentos no espaço aéreo da Venezuela", explica.
Lembra que desde 17 de fevereiro, quando as operações da companhia aérea portuguesa foram suspensas pelas autoridades venezuelanas, que os voos regulares entre os dois países estão interrompidos. Na altura, a TAP foi acusada pelo executivo de Nicolás Maduro de violar as normas de segurança internacionais e ocultação de identidade de um dos passageiros, o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó.
A situação para os portugueses que queriam sair da Venezuela agudizou-se com a pandemia, quando Caracas encerrou a meio de Março, o espaço aéreo de todos os voos comerciais. "Estamos a falar de um país que conta com uma comunidade portuguesa a rondar as 500 mil pessoas, a larga maioria delas da Madeira. Por isso é normal que exista esta necessidade de mobilidade", continua Rui Abreu.
No ano passado, recorda o governante, a TAP efetuava dois voos semanais entre os dois países. "E chegaram a ser quatro ligações aéreas por semana, em anos anteriores", observa. "Tem de existir mobilidade, porque os emigrantes têm família cá, negócios a tratar, questões de saúde ou mesmo a simples vontade de passar férias", diz. Acrescenta que os voos que partem de Lisboa também levam passageiros para a Venezuela.
O PÚBLICO sabe que em equação está a realização de um sétimo voo especial, em Dezembro, que permita a portugueses e outros cidadãos europeus interessados passar o Natal em casa.

in Público 30.11.2020