Pensões atrasadas, as dificuldades, queda do preço do petróleo e as dúvidas e receios que dominam a retoma da mobilidade aérea, foram as principais preocupações manifestadas ao diretor regional das Comunidades e da Cooperação Externa, Rui Abreu, pelos Conselheiros das Comunidades Madeirenses na Austrália, em Angola e na Suíça.
Esta quinta-feira, Rui Abreu voltou a reunir-se com os conselheiros da diáspora madeirense, através de videoconferência, que juntou José Góis, na Austrália, António José Figueira Chaves, Angola e Maurício Cysne, na Suíça.
Acompanhar a situação das comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo neste tempo de crise pandémica da covid-19, foi o mote da conversa.
Diretamente de Sydney, José Góis conselheiro na Austrália, queixou-se apenas dos atrasos no pagamento das pensões. “Felizmente não tivemos qualquer problema [com a covid]. O único problema que temos tido cá é com a reforma. Essa tem sido a principal reclamação da comunidade por causa de alguns atrasos nas reformas. Do contrário, está tudo dentro da normalidade possível. Felizmente não tenho conhecimento de qualquer madeirense e mesmo de portugueses que tenha sofrido com a doença. Não tivemos ninguém contagiado nem nenhum problema grave”, sublinhou.
O conselheiro australiano traçou de resto um retrato de tranquilidade e serenidade no seio da comunidade Lusa dando conta que o extenso país praticamente já retomou a quase normalidade. “Aqui estamos praticamente com boas condições, sem grandes problemas porque os números da doença têm baixado muito, por isso as coisas já estão a funcionar mais ou menos”. A única exceção apontada são as ligações aéreas, ainda muito limitadas ao exterior.
A este propósito Rui Abreu fez saber que até Outubro o Governo Regional decidirá sobre a visita presidencial do Miguel Albuquerque à Austrália prevista para Janeiro de 2021.
“Sabemos que Janeiro é um mês ideal para [realizar a visita] por se celebrar o Dia da Madeira na Austrália, por isso até Outubro o Governo [Regional] decidirá em função desta situação que estamos a viver”, disse. “Não sendo em 2021 se, será em 2022”, adiantou o governante.
Retido na Madeira desde Março, para António José Figueira chaves, conselheiro em Angola, o principal impacto da Covid no país africano é económico resultante da acentuada quebra no preço do petróleo.
“A grande preocupação, não só dos madeirenses, mas de todos os expatriados, designadamente de Portugal, é esta baixa do preço do petróleo, que faz com que haja uma desvalorização abrupta da moeda. Num país que tem a moeda indexada ao dólar, ou seja, tem economia muito dependente do dólar, foi a ‘pedrada no charco’ pelo forte impacto na economia ao atingir valores inimagináveis”, considerou.
A acompanhar o evoluir da situação desde o Funchal, onde chegou a 7 Março para um período de 15 dias, mas entretanto retido porque “a aviação deixou de funcionar”, o empresário António Chaves assume que “o problema maior é [as empresas] não terem dinheiro no final do mês” porque a moeda angolana “desvaloriza todos os dias”. O que faz aumentar a preocupação da comunidade face à “maior dificuldade em transferir, em expatriar o salário”, manifesta.
Apesar dos constrangimentos decorrentes da “brutal” desvalorização do petróleo “continuamos vivos e a trabalhar” ao ponto de sublinhar que “o importante é que enquanto não surge uma vacina nós temos que fazer o nosso dia-a-dia e tentar viver com este vírus”, caso contrário “se não morrermos da doença vamos morrer de outra forma, que é não termos uma atividade económica que nos permita sobreviver” adverte.
Quanto ao impacto direto da Covid-19 em Angola socorreu-se dos “números oficiais” onde constam “apenas quatro óbitos em um novo caso identificado nas últimas 72 horas” para ‘respirar de alívio’ comparativamente a realidades muito diferentes das vividas na Europa, América e mesmo na Ásia. E tudo por reconhecer que “Angola como a maior parte dos países de África tem um sistema de saúde não tão aprimorado como na Europa”.
De resto elogiou “as medidas antecipadas” impostas pelo Governo Regional apesar de “fatura da economia”, por entender que “está fazendo tudo o que deve fazer e acho que as coisas estão no bom caminho”, afirmou.
Realidade diferente vive-se no centro da Europa. O conselheiro na Suíça, Maurício Cysne, deu conta que a principal preocupação da comunidade está agora mais centrada no evoluir da situação pandémica em Portugal e nas eventuais implicações na anunciada retoma dos transportes aéreos.
“A preocupação maior [da comunidade] é a ida à Madeira no Verão por causa dos constrangimentos nos aeroportos”. Neste particular o Rui Abreu fez questão de deixar claro o fim da quarentena obrigatória a partir de Julho a quem vem desembarcar na Região e aproveitou para endereçar o convite a diáspora em geral: “todos são bem-vindos de férias no Verão. Nós queremos que os nossos imigrantes venham cá a Madeira visitar os seus familiares e a Madeira”, desafiou.
O conselheiro europeu destacou o papel da imprensa e a importância da informação oficial que tem sido actualizada diariamente, “informações que tem ajudado muitíssimo esclarecer dúvidas” junto das comunidades, através dos canais tecnológico.
“O Governo [Regional] está a fazer o que é possível e tem sido um posicionamento que tem sido muito, muito positivo”, disse.
Internamente, sem nenhum caso de infecção conhecido entre a comunidade, apenas deu conta de preocupações da comunidade lusa com o sistema de saúde na Suíça e comparou a retoma das atividades “um pouco como está a acontecer na Madeira. Estamos agora a retomar a normalidade económica”, concretizou.
in DN-Madeira 05.06.2020