Com a pandemia da Covid-19 os madeirenses espalhados pelo mundo atravessam momentos difíceis, ainda assim, pelo que nos dão conta os conselheiros em Londres, Jersey, Brasil e Trinidad e Tobago, a solução é aguentar. Voltar para a Madeira não é, por agora, uma alternativa, mesmo porque a situação regional também não está fácil.

 

DN M 22.05.2020


José Silva lembra que o Reino Unido, mesmo durante a discussão sobre o Brexit, continuou a receber milhares de portugueses por ano. Da Madeira não tantos, mas sempre com um procura e alguns já lá chegavam com trabalho garantido, aos serviços ou à construção civil. Agora com o vírus tudo se alterou, mas a verdade é que “voltar para a Madeira não dá garantias”, porque a região vai atravessar também, pela falta de mercado turístico, um dos períodos mais difíceis da história.
“Considero que o Brexit nunca foi problema. A economia estava boa, havia muito trabalho, mas agora sim vai haver problema porque a economia vai bater no fundo, as empresas estão a fechar”, assume José Silva, não sabendo, no entanto, “se a alternativa e voltar para a Madeira”. Creio que as pessoas que estão há pouco tempo podem ponderar mais essa ideia.
Na ilha de Jersey, Carlos Nunes mostra-se satisfeito com o abrandar da situação epidemiológica. Há um estabilizar no número de novos casos. Por lá também se retomaram as atividades ligadas à restauração e à construção civil, sectores que empregam centenas de madeirenses. A tónica do discurso é de retoma, sempre com contenção, uma vez que a pequena ilha tem a lamentar três dezenas de mortos.
Há outra vantagem que é o facto de o governo local atribuir, mesmo àqueles que não efetuaram descontos para o sistema de segurança social local, um apoio semanal na ordem das 150 libras. “É a legislação aplicada para quem tem menos de cinco anos na ilha “, mas posso lhe dizer que o “desemprego no geral, não chega aos 5%”.
No Brasil a situação é preocupante, sobretudo pela forma como o governo está a responder à pandemia. Maria Sardinha observa que as ligações com Portugal, em termos empresariais e turísticos, iam de vento em popa, mas que agora é tudo uma indefinição, porque sem poder de compra “há coisas que ficam naturalmente para segundo plano”.
“Falar do problema do coronavírus no Brasil é muito complexo”, com lugares caóticos e lugares controlados porque as pessoas cumpriram com as medidas de distanciamento, refere a conselheira apontando que oficialmente o Consulado português apenas registou um caso de Covid-19. “Mas como tenho sido a voz da Madeira no Brasil as pessoas ligam-me a dar conta de outra realidade”.
Em Trinidad e Tobago um dos maiores receios prende-se com a retoma das ligações é ilhas. Jo- Anne Ferreira sabe que o ‘lockdown’ deixou sequelas na comunidade, mas teme que a abertura nomeadamente aos Estados Unidos, país onde a pandemia está longe de controlada, traga problemas ainda mais sérios. Neste momento acrescem os problemas ligados ao petróleo e o avizinhar da estação dos furacões, que acabam por deixar um rasto de devastação.
“Somos uma região muito vulnerável “, confessa, adiantando mesmo que há uma certa “resistência” a abertura. Referir ainda que Trinidad e Tobago recebeu, nos últimos tempos, milhares de refugiados da Venezuela, um facto que veio “acentuar a frágil situação económica”.

Apesar de não haver intenção de regressar, à Madeira, isto de forma definitiva, a Madeira quer continuar a receber os emigrantes no Verão. O repto foi deixado pelo Diretor regional das Comunidades e Cooperação Externa, durante mais uma videoconferência que juntou Conselheiros da Madeira. Rui Abreu deu conta do reforço dos voos operados pela TAP, bem como da abertura de outras companhias aéreas que voam para o arquipélago.
Numa conversa que vem sendo habitual por estes dias da Covid-19, para aferir as condições dos emigrantes, o governante mostrou-se satisfeito pela retoma naqueles países de muitas das áreas de actividade que empregam cidadãos madeirenses. Abrir fronteiras acarretará riscos, mas é inevitável.

in DN - Madeira 22.05.2020