Ensino do português chega a 33 países como língua curricular.

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Além da Europa, a procura é cada vez maior na América Latina, Ásia Central e África. Digitalização e parcerias são traves-mestras da estratégia da Rede de Ensino de Português no Estrangeiro.

O ensino de português no estrangeiro já não é só aquele curso que nos idos de 70 ou 80 era feito na associação ou na paróquia frequentadas por emigrantes. Nos últimos anos, a língua tornou-se um eixo fundamental da política externa do país. Muito mudou. Hoje é disseminada no mundo através de uma rede internacional em contínua expansão.

“Sem esquecer a Europa estamos a expandir para a América Latina, Ásia Central e África, onde a procura pelo português é muito grande”, revela Luís Faro Ramos, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., durante a apresentação da Rede de Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) 2019/2010.

Há quatro anos, os países que integravam o português nos seus sistemas de ensino não iam além de uma dezena. Atualmente o número triplicou. “Em 2019/2020 atingiremos 33 países nos quais a língua portuguesa é oferecida nos respetivos currículos de ensino secundário. Mais uma vez, teremos mais professores, mais horários e mais alunos”, salientou Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, no Instituto Camões.

No final de 2018, o Governo de António Costa definiu uma meta de curto prazo para a rede: atingir os 40 países. O México foi o último a aproximar-se da língua de Camões, resultado de uma relação de diplomacia económica intensa, que guindou este país a segundo mercado da América Latina para os portugueses. A somar ao Uruguai, Argentina e Venezuela, onde o ensino de português foi iniciado no último ano letivo em duas escolas públicas, nas quais “98% dos alunos são crianças e jovens venezuelanos sem ascendência portuguesa”.

Como prova de que o português desperta cada vez mais interesse no mundo e ultrapassa as fronteiras da diáspora, este ano letivo, Argélia e Turquia integraram-no no seu sistema de ensino, fruto de projetos piloto.

No total, a rede de ensino básico e secundário oficial apoiada pelo Estado português arranca este ano letivo com 72.244 alunos e 978 professores, num investimento estimado de 22,5 milhões de euros. Comparativamente ao ano letivo anterior, a língua portuguesa conquistou mais 1.420 alunos e seis professores.

Consolidar e expandir a rede
A estratégia do ensino do português no estrangeiro assenta em três vetores. O primeiro está orientado para os filhos e descendentes de emigrantes portugueses, cujo currículo, além da língua portuguesa também inclui história e geografia nacionais.

O português integrado nos currículos do ensino básico e secundário de vários países é o segundo vetor. O idioma é assim aprendido como língua estrangeira, muitas vezes como língua opcional, quer por descendentes de portugueses, quer por jovens dos outros países como língua estrangeira.

A terceira vertente é a do ensino superior. O estudo de cursos e cadeiras de língua, literatura e cultura portuguesa nos mais diferentes formatos em universidades e politécnicos estrangeiros. No ensino superior, o caminho afigura-se de crescimento. A este nível, a difusão, disseminação, aprendizagem do português faz-se através de cátedras, centros de línguas, bolsas, protocolos, parcerias com instituições de ensino superiores de outros países e organizações internacionais.

Na generalidade, todos estes indicadores revelam bons desempenhos, realça Luís Faro Ramos. “Constatamos um crescimento ao nível de alunos, de cátedras, de instituições de ensino superior com as quais temos protocolos. Há um crescimento generalizado”.

Para este ano letivo, o Instituto Camões estima 115 mil alunos nos cursos de português, que serão acompanhados por 850 professores e 51 leitores. Ou seja, mais cinco mil do que no ano passado. Neste capítulo, o investimento ronda três milhões de euros.

Luís Faro Ramos prevê igualmente um crescimento de cátedras de português no estrangeiro e da rede de Centros de Língua Portuguesa, que abrange cerca de 80 países. As cátedras, estruturas que combinam ensino com investigação, são atualmente 50 em 20 países, estando em negociação mais quatro, fruto da aposta em novas parcerias com consórcios e universidades. A próxima será lançada em Sófia na Bulgária.

Ao nível das parcerias, o objetivo é “consolidar as já existentes e tentar novas”, disse Santos Silva. Dos vários exemplos de alianças frutíferas destacamos dois: a continuação pelo segundo ano letivo do ensino de português na Escola Internacional das Nações Unidas, em Nova Iorque, que Portugal partilha com o Brasil, e a entrada do português no Cazaquistão, em virtude de parcerias com duas universidades deste país da Ásia Central.

Digitalização e parcerias
Num mundo global e digitalizado, o português não pode ficar à margem dos novos formatos de aprendizagem. Augusto Santos Silva salientou o desenvolvimento de várias ferramentas que apoiam a sua divulgação externa. A oferta online arrancou há cerca de dois anos e neste momento estão a decorrer diversos projetos piloto em vários países.

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, aproveitou a ocasião para realçar a importância das comunidades lusófonas na construção da riqueza da língua e das suas “novas tonalidades”. Por outras palavras, no novo “motor de ligação” entre Portugal e as suas comunidades portuguesas e lusófonas. “A rede EPE é um ponto de partida para a nossa afirmação internacional no multiculturalismo e na promoção da cidadania democrática”, destacou.

Relembrando a imagem usada pelo ministro, uma rede sem dúvida muito distante – e distinta – daquele ‘curso’ que nos idos de 70 ou 80 se dava aos filhos da diáspora na associação ou na paróquia.

In «Jornal Económico»