D. Nuno Brás presidiu pela primeira vez à Eucaristia e à procissão em honra da Padroeira da Madeira.

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Em nome da devoção a Nossa Senhora, milhares de pessoas subiram esta quinta-feira, dia 15 de agosto, ao Monte para participar na festa em honra da Padroeira da Madeira.

Como sempre acontece, a Eucaristia iniciou-se pelas 11 horas. Porém, muito antes disso já a igreja estava a abarrotar. Era gente de todas as idades, vinda dos quatro cantos da ilha, e não só, que quiseram louvar Nossa Senhora.

Este ano, pela primeira vez, a celebração foi presidida por D. Nuno Brás e concelebrada pelos bispos eméritos. D. António e D. Teodoro, e por vários outros sacerdotes, entre os quais o Pe. Vítor Sousa, pároco do Monte.

Momentos antes, à chegada ao Largo da Fonte, o prelado depositou uma coroa de flores em homenagem às vítimas da queda de uma árvore, em 2017. Junto ao fontenário rezou-se e fez-se silêncio em memória daqueles que perderam a vida, mas também em nome dos que escaparam à tragédia. Todos eles foram, mais tarde, colocados no altar do Senhor pelo bispo diocesano, que lembrou também todos os madeirenses e em particular os emigrantes e as suas intenções.

Na homília, o bispo diocesano começou por lembrar que a “solenidade que hoje celebramos — a Assunção em corpo e alma de Nossa Senhora ao Céu — desfaz todas as dúvidas acerca da salvação que Jesus nos ganhou na Sua morte e ressurreição.”

Hoje, prosseguiu, “contemplamos o ser humano plenamente salvo, plenamente assumido por Jesus ressuscitado e glorioso, que vive a eternidade feliz à direita do Pai. Deus não está sujeito como nós ao tempo e ao espaço. E, assim, quis dar-nos a nós, que ainda peregrinamos na história, a possibilidade de contemplar a nossa vocação de seres humanos plenamente realizada na pessoa da Virgem Maria, a mulher que nos representa a todos.”
A Virgem Maria, disse ainda D. Nuno Brás, “foi ‘elevada ao Céu em corpo e alma’.” Quer dizer, “o corpo de Maria partilha da glória de Deus. Com o reconhecimento e a afirmação desta verdade de fé, está afastado qualquer dualismo que considere o corpo e as realidades materiais como más, destinadas por isso à perdição”.

O nosso corpo frisou, “não é um ‘invólucro’ da alma, destinado a, porventura, ser lançado fora, esquecido, quando a alma for ‘assumida’ por Cristo. Somos corpo e alma: um corpo que vive e expressa toda a espiritualidade; e uma espiritualidade encarnada, quer dizer: vivida na carne. Corpo e alma seremos assumidos por Cristo no final dos tempos”.

Assim sendo, não nos podem pedir que enquanto cristãos “fiquemos confinados às realidades espirituais.” Antes pelo contrário. Temos “não apenas o direito como o dever de falar, de lutar por uma sociedade sempre mais plenamente humana; por relações entre pessoas em que todos possam ser respeitados na sua dignidade; por modos de existência que não caiam em soluções fáceis mas que nos tornam profundamente desumanos, a nós e a toda a sociedade”.

Com a “aproximação do período eleitoral”, que afirmou ser um tempo “sempre decisivo para a vida em sociedade”, o bispo do Funchal apelou à participação dos madeirenses nas próximas eleições, momento de “escolha” dos que vão governar e indicando que a “vida democrática” reconhece a “mesma dignidade” a todos os cidadãos.

D. Nuno Brás lamentou os “ataques pessoais” e “a desvalorização do outro candidato, por vezes até através de calúnias” que têm acontecido nos “últimos tempos”. Daí o pedido que deixou: “Faço, nesta celebração da solenidade de Nossa Senhora, nesta festa da nossa padroeira, um apelo sincero mas firme a todos os candidatos: que este tempo de campanha eleitoral possa ser um tempo e um espaço de civilização. No contraste natural que evidencia a diferença das ideias e das propostas; no mostrar a diferença das pessoas, das suas capacidades e projectos, peço que todos sejam capazes de manter a elevação do debate e o respeito pela dignidade dos intervenientes”, sublinhou.

Terminada a Eucaristia saíu a procissão, que contou com a participação dos fiéis que se encontravam no interior da igreja, mas também de todos aqueles que se foram posicionando ao logo do seu trajeto, e dos representantes das principais entidades regionais e municipais.

Foram muitos os que aproveitaram este momento para agradecer, com os seus círios e velas, as graças recebidas por interceção de Nossa Senhora, cujo andor foi levado em ombros pelos carreiros.

Empreendido o percurso habitual, a pequenina imagem da Virgem regressou à igreja, onde ainda pemaneceu em adoração.

In «Jornal da Madeira»