Venezuelanos que regressaram a Portugal dirigem-se por estes dias ao Santuário de Fátima para pedir paz no seu país, que vive uma crise económica e política profunda.

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No meio de um recinto do Santuário de Fátima quase vazio sobressai uma grande bandeira da Venezuela hasteada a uns três metros de altura.

"Este é o ponto de encontro para os venezuelanos", conta José Ornelas, que viveu 49 anos em Caracas, capital da Venezuela, e que já é presença habitual na Cova da Iria durante a peregrinação de maio, trazendo sempre a grande bandeira azul, amarela e vermelha do país de onde saiu definitivamente há um ano.

Por lá, vão aparecendo outros venezuelanos para trocar algumas palavras e histórias em tudo semelhantes.

"A minha filha está desesperada. Já não suporta a situação. Falta luz, falta água, falta tudo", disse à agência Lusa Fátima Marques da Costa, que se tinha juntado ao grupo de venezuelanos que rodeava a bandeira de José Ornelas.

Veio há dois anos para Portugal e hoje está em Fátima para pedir "à Nossa Senhora para ajudar a Venezuela".

"A Venezuela tem um problema grave e tem de ser resolvido o mais rápido possível", vincou Fátima Marques da Costa, que até nas férias em Portugal, quando vivia na Venezuela, passava pela Cova da Iria.

Se desde pequena os seus pais lhe incutiram a fé em Deus, a situação vivida na Venezuela aumenta a força na crença, "para ver se se encontra uma luz", diz.

As conversas que José Ornelas vai ouvindo são "sempre as mesmas", conta, notando que, ao longo dos últimos 12 anos que marca presença em Fátima, o número de venezuelanos que o abordam foi aumentando, multiplicando-se as histórias de regresso a Portugal.

Victor Nunes, que esteve 42 anos na Venezuela, tem "o coração partido", com "três filhos cá e três filhos lá".

A cada 15 dias, o ex-emigrante a viver na sua terra natal, Tomar, dirige-se a Fátima e afirma que já não pensa em voltar ao país onde construiu uma empresa de construção civil.

"Venho para pedir paz e saúde à Venezuela", afirma, de voz embargada, salientando que tem que mandar regularmente embalagens com medicamentos para os três filhos que ainda continuam pelo país.

Com uma situação cada vez menos favorável, face às tensões entre oposição e Governo e à crise económica, José Ornelas acredita que, no futuro, mais venezuelanos aparecerão ao lado da sua bandeira, no recinto de Fátima, para partilhar histórias de saída do país e rezar pelo regresso da paz à Venezuela.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da AN, Juan Guaidó, autoproclamou-se Presidente interino e prometeu formar um Governo de transição e organizar eleições livres.

Guaidó, de 35 anos, contou de imediato com o apoio de mais de 50 países, incluindo os EUA e a maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, que o reconheceram como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

Na madrugada de 30 de abril, um grupo de militares manifestou apoio Juan Guaidó, que pediu à população para sair à rua e exigir uma mudança de regime.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

In «JM»