Há três meses milhares de venezuelanos voltaram a sentir esperança, mas desde então pouco, ou nada, mudou no país. Foi a 23 de janeiro que o mundo ficou a conhecer o homem de 35 anos que quer liderar a mudança na Venezuela.

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Foi perante milhares de pessoas, no leste de Caracas, que Juan Guaidó se autoproclamou Presidente interino da Venezuela. Cerca de 20 dias antes, tinha assumido o cargo de presidente da Assembleia Nacional, a única instituição politica existente no país que não segue a politica do regime.

A 10 de janeiro, Nicolás Maduro iniciou o segundo mandato de seis anos como Presidente, após uma vitória eleitoral cuja legitimidade não foi reconhecida nem pela oposição, nem pela comunidade internacional.

Como pano de fundo destes acontecimentos está um país que vive uma das mais graves crises das últimas décadas. Desde 2015, e segundo dados da ONU, cerca de 2,3 milhões de pessoas fugiram para escapar à fome e tentar uma vida melhor.

Quando se autoproclamou Presidente interino do país, Juan Guaidó alegou que Maduro não é um Presidente legítimo, classificou-o de usurpador e garantiu que queria convocar eleições o mais depressa possível. O anúncio foi saudado pela Organização de Estados Americanos, pelos Estados do Grupo de Lima e pelos Estados Unidos, que foram o primeiro país a reconhecer o chefe de Estado interino.

No final do mês de janeiro, o Parlamento Europeu reconheceu Guaidó e, dias depois, o mesmo aconteceu com vários países da UE, entre os quais Portugal.
Apesar de todos os apelos nacionais e internacionais, Nicolás Maduro recusou-se a abandonar o poder. A esperança de muitos venezuelanos, de que a mudança de regime fosse rápida, acabou por não se concretizar.

Maduro continua a contar com o apoio de grande parte das Forças Armadas. Nestes três meses, cerca de 1.500 soldados venezuelanos desertaram para países vizinhos, mas o ritmo das deserções tem vindo a diminuir e os militares continuam firmemente alinhadas com Maduro. Tanto para Guaidó, como para a administração Trump, isso é um problema, já que as Forças Armadas são a trave mestra que mantém Maduro no poder.

O Presidente interino ainda não convenceu os generais de que o fim do regime de Maduro vai ser marcado pela reconciliação e não pela vingança. Tem anunciado uma amnistia para os crimes praticados sob o comando de Maduro, mas essas garantias não parecem ter convencido as pessoas certas.

O primeiro braço de ferro entre o regime e a oposição, agora com um novo fôlego, aconteceu no início de fevereiro, quando Guaidó, apoiado por milhares de venezuelanos, tentou fazer entrar ajuda humanitária através da fronteira com a Colômbia.

O Governo deu ordens à Guarda Nacional Bolivariana e à polícia militar para barricarem as estradas de ligação entre os dois países. Juan Guaidó, que definiu esse dia como um "teste" às Forças Armadas, acabou derrotado.

Contra as ordens das autoridades do país, que o proibiram de viajar, Guaidó saiu da Venezuela para negociações com diversos líderes americanos: o Presidente colombiano, Iván Duque; o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o vice-Presidente norte-americano, Mike Pence.

No regresso ao país, Maduro deu ordens para que Guaidó fosse detido no aeroporto, mas os militares de serviço não cumpriram esta ordem. Entrou então em ação a Assembleia Constituinte, que se mantém fiel ao regime, para levantar a imunidade ao líder da oposição.

O decreto justificava a decisão com o facto de Guaidó ter violado a Constituição ao autoproclamar-se Presidente interino e por desrespeitar, em fevereiro, uma proibição de saída do país ditada por aquele órgão.

A Controladoria Geral da Venezuela, composta apenas por elementos do regime, decidiu entretanto interditar o Presidente interino. Durante 15 anos, Guaidó não vai poder ocupar qualquer cargo público. Esta é a punição máxima prevista na lei por ocultação de informações na declaração de impostos, e por receber fundos estrangeiros que não foram declarados. O controlador-geral acusou Juan Guaidó de ter usurpado funções públicas e de ter praticado ações com governos estrangeiros que prejudicam o povo da Venezuela, a estabilidade democrática e a ordem constitucional da República.

Em meados de abril, o chefe de gabinete de Guaidó, Roberto Marrero, foi detido pelos serviços secretos venezuelanos e acusado de liderar uma célula terrorista responsável por planear vários assassinatos políticos. O líder da oposição classificou a ação das forças de segurança como um sequestro vil e grosseiro. Guaidó garantiu que não se deixaria intimidar e decidiu manter a agenda prevista.

Desde o inicio de março que há uma nova crise, desta vez energética. Em três semanas, a Venezuela sofreu três interrupções no fornecimento de energia que afetaram a maior parte do país e se prolongaram por vários dias. Os venezuelanos ficaram sem eletricidade, água potável, comunicações e internet. O Governo, que atribui as falhas a ataques da oposição concebidos para desestabilizar o clima político, anunciou um plano de racionamento elétrico.

O Presidente interino tem pedido à população para sair à rua sempre que houver apagões para assim pressionar o regime. Guaidó aponta agora o dia do trabalhador, 1 de maio, para a realização de uma manifestação que quer que seja a maior de sempre. "Vamos com tudo e toda a Venezuela sai à rua" são as palavras de ordem desta iniciativa.

Resta saber por quanto tempo Guaidó vai conseguir manter mobilizados os que anseiam por uma mudança de regime na Venezuela.

In «TSF»