O Dançando com a Diferença estreia em Maio no Teatro Municipal Baltazar Dias um novo trabalho, centrado nas migrações, um pouco na continuação de "Endless", que o grupo realizou tendo como ponto de partida o Holocausto.
O novo projecto fala da problemática dos refugiados, das migrações, e conta com a colaboração dos antropólogos Cristina Santinho e Felipe Ferraz. Ainda sem nome, vai envolver a sociedade, colocando entre 60 a 70 pessoas em palco, revelou o director artístico do grupo que inclui bailarinos com e sem necessidades especiais.
Inicialmente o novo trabalho ia ter como base a questão dos refugiados, mas desde que foi pensado até agora, o projecto evoluiu e Henrique Amoedo, que é também coreógrafo, explicou que não quer centrar exclusivamente nessa questão, mas sim abordar de uma forma mais abrangente o que é que faz as pessoas saírem de onde estão e ir para outros lugares, quase como se fossem migrações forçadas. No fim, diz "vai dar na mesma coisa, que é sair de algum lugar porque foi obrigado, mas sem fechar nesse estatuto", de refugiado.
O "Endless" é um projecto de 2012 que fala sobre a II Guerra Mundial. Desde então o grupo fez várias remontagens e a cada uma veio aproximando esta coreografia de realidades mais próximas, disse Henrique Amoedo, referindo por exemplo numa das últimas apresentações no Teatro Municipal Baltazar Dias o uso da imagem de um refugiado, uma criança Síria. "Isso porque eu acho que aos poucos é como se estivéssemos andando para trás nessa questão. Todos os avanços de paz de alguma forma estão ficando frágeis, todo o mundo está-se fechando mais". Inicialmente a questão foi vista a nível da Europa. Hoje, lamenta, é possível ver que é mais abrangente. "Acontece muito parecido na Venezuela, eu não sei se o próximo passo é acontecer no Brasil, se a gente colocar na Europa, acontece vários lugares, o muro dos Estados Unidos. Ou seja as sociedades estão-se fechando, e se elas vão-se fechando, como é que a gente pode representar isso em cena, com dança e pensando nesta questão".
Estiveram a fazer já entrevistas a refugiados no continente e interessa a Henrique Amoedo pegar também na questão dos venezuelanos que estão a chegar à Madeira. Interessa-lhe porque o Dançando com a Diferença está aqui e porque quer a realidade local. "Fui ouvir quem estava fora, mas interessa centrar aqui. Aqui obviamente a questão fica muito centrada nos venezuelanos, é uma coisa muito actual, muito premente".
Cristina Santinho, acredita Amoedo, vai contribuir com um olhar mais académico, e vai ajudar também a lidar com essas pessoas e com essas situações. Vai contribuir também com a visão mais global sobre a questão.
Felipe Ferraz trabalhou com o grupo na criação de "Endless", na parte multimédia, dos vídeos e volta a entrar como parceiro criativo na nova produção.
Este é um trabalho de dança na comunidade, por isso Henrique Amoedo não sabe se ficará por aqui ou se terá depois outras apresentações. Entretanto, o grupo vai abrir inscrições para as pessoas que queiram colaborar e já tem parceria com as câmaras de Câmara de Lobos e do Funchal, que passa também pelos centros comunitários, onde irão buscar coisas específicas, e depois vão abrir inscrições para os que se queiram juntar à obra e aos bailarinos do Dançando com a Diferença.
Cristina Santinho falou sobre a parceria, que disse ser "fantástica" porque permite entrar na temática através da dança, que cria empatia com as pessoas e derruba barreiras. "E se for dançando com as pessoas que são assumidamente diferentes, quer do ponto de vista dos seus "handicaps" físicos, quer do ponto de vista da sua origem cultural ou social, é assim um tesouro esta colaboração".
A antropóloga diz que a Madeira deve se orgulhar de ter o grupo.
In «DN Madeira Impresso»