Há menos portugueses a ir viver no resto do mundo. Com aumento do fluxo de portugueses, Espanha é uma excepção, mostra Relatório da Emigração 2017 divulgado esta segunda-feira.
Descida de 25% para o Reino Unido confirma efeito "Brexit". Angola continua no top 10 do envio de remessas.
Portugal continua a ser o país da União Europeia com mais emigrantes proporcionalmente à população residente: 22% dos portugueses vivem fora do território nacional. Porém, pelo quarto ano consecutivo, em 2017 a emigração continuou a descer.
Mas não para Espanha, que regista uma tendência a contraciclo com a entrada ali de portugueses a crescer sustentadamente desde 2014: entre 2016 e 2017 aumentou 18%, depois de, no ano anterior, ter também subido 15%. Assim, em 2017 chegaram a Espanha cerca de nove mil portugueses, sendo o quinto país preferencial dos emigrantes, neste momento, mostram os dados do Relatório da Emigração, elaborado pelo Observatório da Emigração, que é apresentado nesta segunda-feira. No total, há quase 100 mil portugueses a viver em Espanha.
Para todo o mundo, em 2017 houve cerca de 90 mil saídas, revela ainda o relatório – embora estejam por confirmar dados da emigração para a Alemanha, França e Moçambique nos últimos três anos.
“É normal que Espanha ande em contraciclo”, afirma ao PÚBLICO o coordenador científico do Observatório, Rui Pena Pires. “Em 2008 o principal destino da emigração portuguesa era a Espanha, por causa do sector das obras públicas e construção."
Aquele país sofreu igualmente uma crise económica e financeira. “O resultado foi uma quebra brutal” da emigração para aquele país. A partir de 2014 a economia começou a recuperar e a emigração desceu, “mas subiu na emigração para Espanha”, o que “é normal porque Espanha tem novo crescimento de procura no sector das obras públicas e a tendência é para suprir as necessidades com imigração de países da União Europeia”, analisa.
stock acumulado baixou, quer dizer que houve regressos ou remigração para outros países."
No entanto, as remessas de emigrantes daquele país desceram de 141 mil para 115 mil. “Não temos a certeza do que se está a passar mas poderá ser pelo facto de parte desta emigração ter origem na Venezuela”, calcula.
Contabilizando todos os países, em 2017 os emigrantes enviaram mais de 3.554 milhões de euros, mais 6,3% do que em 2016.
Um cataclismo chamado "Brexit"
Outra tendência já verificada pelo coordenador científico do Observatório, que regularmente publica notícias com dados da emigração, foi a descida das saídas para o Reino Unido. Sendo actualmente o país preferencial dos portugueses com 23 mil a terem emigrado em 2017, a verdade é que o “Brexit” desencorajou milhares: foram menos 25% do que no ano anterior. Em 2015 eram mais dois terços. “Já podemos dizer que a descida se deve ao 'Brexit' porque outros países do Sul da Europa tiveram uma retracção semelhante. Esta descida [cinco vezes superior à ocorrida no ano anterior] é explicável pelo que está a acontecer no país de destino”, analisa o sociólogo. “O ‘Brexit’ é uma espécie de cataclismo do ponto de vista da mobilidade."
À semelhança do que aconteceu com os britânicos em Portugal, cujos pedidos de nacionalidade aumentaram, também houve mais portugueses a viver no Reino Unido a fazer o requisito “inverso”. Em 2016 cerca de 670 portugueses pediram a naturalização naquele grupo de países, em 2017 esse número duplicou para 1200, refere Pena Pires. Dados de 2018 mostram que “esse movimento está a continuar”.
Angola no top 10 das remessas
Em África, Angola aparece novamente como país preferencial, com três mil saídas – excluindo os emitidos pelo Consulado de Angola em Faro que não conseguem obter há anos.
Apesar de estar no topo dos países do mundo para onde mais portugueses emigraram, Angola perdeu peso como destino pois desceu o número de saídas desde 2015, com menos 42% em 2016 e menos 24% em 2017. “O essencial da crise do petróleo reflectiu-se em 2016, foi aí o grande efeito. Não há dados de 2018 mas provavelmente terá estabilizado”, afirma o sociólogo. A nível das remessas, Angola permanece num dos principais países, com 245.100.000 euros enviados para Portugal em 2017, tendo subido de sexto para quinto lugar no ranking liderado pela França, seguido da Suíça, do Reino Unido e dos Estados Unidos.
Da análise dos dados fica evidente que quando sobe a taxa de emprego, também sobe a imigração mas desce a emigração, afirma o sociólogo. “A correlação é quase perfeita. O grande regulador do funcionamento da emigração e da imigração é o emprego”, conclui.
A França continua a ser o país do mundo onde vive um maior número de emigrantes nascidos em Portugal, com mais de 615 mil em 2014, último ano para o qual há informação disponível. Seguem-se a Suíça (220 mil em 2017), os EUA (148 mil em 2014), o Canadá (143 mil em 2016), o Reino Unido (139 mil, em 2017), o Brasil (138 mil, em 2010) e a Alemanha (123 mil, em 2017).
Dados sobre os regressos de emigrantes há poucos, nota. Mas o sociólogo refere que em 2017 estavam abaixo dos dez mil, ou seja, metade dos registados na primeira década do século quando regressavam, em média, 20 mil portugueses por ano. "Quer dizer que provavelmente os portugueses estão-se a sentir bem para onde foram. A emigração portuguesa é quase toda feita no quadro da União Europeia onde temos direitos de cidadania que fazem com que um europeu não se sinta bem estrangeiro."