O fenómeno da emigração portuguesa tem registado ao longo do tempo, e sobretudo nos últimos anos, grandes mudanças que nem sempre são fáceis de compreender e enquadrar.

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É a isso que se propõe um trabalho de pesquisa da autoria de investigadores do Observatório da Emigração, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do Instituto Universitário de Lisboa, que se debruçou sobre a emigração portuguesa qualificada.

O estudo inserido no caderno de publicações nacionais sobre a emigração de mão de obra qualificada em 13 países da UE, editado pela Direcção-Geral do Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão Centro Europeu de Especialização, da Comissão Europeia, traçou as oscilações do fluxo de emigração em Portugal desde o 25 de Abril.

Na fase pós 25 de abril, a emigração portuguesa registou uma espiral decrescente. Essa tendência inverteu-se a partir do momento em que o país se juntou à União Europeia, em 1986, altura em que se iniciou um aumento progressivo do número de emigrantes.

A partir de 2000 o movimento acelerou. As tendências económicas de estagnação e diminuição do investimento público que se seguiram ao acesso de Portugal ao euro geraram um aumento da emigração durante as primeiras duas décadas do século XXI, principalmente devido à degradação das condições do mercado de trabalho.

Este aumento foi interrompido pela crise financeira de 2008−2010, mas reforçado durante a consolidação fiscal de 2011−2014. Os emigrantes portugueses do século XXI são mais qualificados do que aquilo que eram os das anteriores gerações. Contudo, os dados disponíveis não permitem aferir se os emigrantes são mais qualificados do que a população portuguesa no geral, que é também mais qualificada do que em décadas anteriores.

Aquando dos últimos censos (2011), a percentagem de pessoas com formação superior entre os emigrantes crescia ao mesmo ritmo que a percentagem de pessoas com formação superior a viver em Portugal. No entanto, com o colapso do fluxo de emigração não qualificada de Portugal para Espanha depois de 2008 e o aumento da emigração para novos destinos como o Reino Unido, é possível que a tipologia da emigração portuguesa em termos de qualificações tenha mudado.

A intensificação do crescimento da emigração este século e a sua recente estabilização num nível elevado contribuíram para agravar a tendência de envelhecimento na demografia portuguesa. Portugal é hoje um país com elevada emigração, baixa imigração, baixa natalidade e em rápido envelhecimento. O saldo migratório e o crescimento natural são negativos e a população já começou a diminuir.

No que toca a ciclos, a criação de emprego só foi retomada em 2014, acompanhada por uma queda na taxa de desemprego. A recente dinâmica de crescimento económico em Portugal é, contudo, ainda demasiado recente e emergente para reverter o saldo migratório negativo e para evitar a potencial falta de mão de obra qualificada e não qualificada a curto prazo.

In «Bom dia Europa»