Quando passa pelo Jardim Municipal, ali junto à Rua de São Francisco, já reparou no busto que ornamenta a pequena praceta? E já se perguntou de quem será?
Pois bem, aquele é o busto de João Vieira Fernandes – da autoria de Costa Motta -, um herói brasileiro nascido na Madeira.
De acordo com Veríssimo Serrão, João Vieira Fernandes “(...) se tornou uma personagem quase lendária da Restauração no Brasil. Nascido ao redor de 1610 na ilha da Madeira, era mulato e de origem humilde. Tendo emigrado para Pernambuco, ali exerceu pequenos mesteres até 1635, quando a proteção dos holandeses lhe fez adquirir alguns meios de fortuna. Pouco depois, era senhor de cinco engenhos, exerceu o cargo de vereador de Maurícia e obteve a contratação dos dízimos sobre o pau-brasil e o açúcar.”
Esta versão, é, no entanto, contestada pelo Nobiliário da Ilha da Madeira, de Henrique Henriques de Noronha, que garante que o verdadeiro nome de Vieira Fernandes era Francisco de Ornellas, natural de Machico, filho do fidalgo Francisco de Ornellas Moniz, que fugiu para o Brasil ainda adolescente e onde mudou de nome, homenageando os seus ancestrais Pedro Vieira, morgado da Ribeira de Machico, e António Fernandes, sesmeiro nas Covas do Faial.
O que é certo é que chegou ainda muito novo à Capitania de Pernambuco, tendo participado na resistência à segunda invasão holandesa ao Brasil.
Homem pragmático, ao que parece, travou amizade com os invasores, o que lhe permitiu enriquecer, acumulando diversas propriedades rurais e engenhos.
Em 1643, casou-se com Maria César, filha do madeirense Francisco Berenguer de Andrade e de Joana de Albuquerque. Com o casamento, João Fernandes Vieira ingressa na aristocracia rural pernambucana.
Um ano depois, acometido por um patriotismo até então adormecido, passa a opor-se aos invasores holandeses (ainda que se mantivesse ligado à Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais) e em 1645 é o primeiro signatário do pacto onde figura o vocábulo “pátria”, utilizado pela primeira vez na história Brasil.
Principal comandante do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649), devido à sua valentia e às vitórias que proporcionou ao Exército Patriota, foi aclamado Chefe Supremo da Revolução e Governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de Pernambuco.
Hoje é um dos “Heróis da Pátria” brasileira, com o nome inscrito no Livro de Heróis da Pátria (conhecido como “Livro de Aço”), depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.
Entre 1658 e 1661 é Governador e Capitão-General de Angola, tendo regressado ao Brasil para ocupar o cargo de Superintendente das Fortificações do Nordeste do país.
Se hoje recordo este nosso ilustre conterrâneo, faço-o porque me parece importante que se conheça a estória do “Libertador de Pernanbuco”, madeirense de espírito audaz que soube ganhar o seu lugar na História.
Hoje somos procurados por muitos brasileiros. Quando nos estivermos a inclinar para qualquer generalização, é bom que nos recordemos que o Brasil fez de um Madeirense “Herói da Pátria” Brasileira. E que aquela nação ergueu-se, também, com muito sangue que saiu desta Região.
Recordo-o, também, porque sendo um dos grandes que partiu para vencer, está longe de ser o único. A história da Madeira e dos madeirenses está recheada de heróis e de heroínas que se recusaram a ter medo, que ousaram arriscar, que ambicionaram vencer.
Esses heróis deixaram inscrito o seu nome por onde passaram e souberam ser merecedores do espírito, da cultura e dos valores que herdaram. Heróis, muitos deles anónimos, que ao longo dos séculos honraram a Região de onde partiram. Heróis que todos os dias, com o seu empenho e bravura, alcançam proezas inigualáveis por essa Diáspora fora!