Forma com Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro o grupo dos campeões olímpicos nacionais. O saltador é o que tem conseguido melhores marcas mais espaçadas no tempo.

NelsonEvora

E ainda não parou... Já é o melhor?

Carlos Lopes (1984), Rosa Mota (1988), Fernanda Ribeiro (1996) e Nelson Évora (2008). São estes os nomes dos quatro ouros olímpicos nacionais e entre eles estará, com grande margem de certeza, o melhor atleta português de sempre.
A questão coloca-se pelo mais recente desempenho de Nelson Évora, campeão europeu desde segunda-feira no triplo salto. Foi a primeira vez que o saltador do Sporting se sagrou campeão do Velho Continente ao ar livre. Com 11 anos de distância, o que atesta a sua longevidade, Évora já tinha as outras duas peças do puzzle - Jogos Olímpicos (2008) e Mundiais (2007), isto sem falar em dois Europeus de pista coberta (2015 e 2017).
O mesmo aconteceu com Rosa Mota, na maratona, e Fernanda Ribeiro nos 10 mil metros, com esta última a sagrar-se bicampeã europeia em pista coberta na distância dos três mil metros. Ainda assim, as duas campeãs olímpicas venceram tudo num espaço curto de tempo. Mota entre 1982 e 1990 e Fernanda Ribeiro de 1994 a 1996. Nélson Évora começou a ganhar em 2007 e ainda não parou.

Mas, afinal, quem será o melhor atleta português de sempre?

"A essa pergunta tenho de responder Carlos Lopes, que foi dominador em estrada, corta mato e pista, três especialidades em que foi claramente dominador. E, depois, Carlos Lopes viveu num período em que o número de competições era mais reduzido. Por exemplo os primeiros Mundiais de Atletismo foram apenas em 1983, um ano antes de Carlos Lopes se sagrar campeão olímpico, e os Europeus disputavam-se de quatro em quatro anos, agora é de dois em dois", diz ao DN José Carvalho, antigo atleta olímpico e atual treinador de velocidade e barreiras.
Para Fonseca e Costa, antigo treinador de fundo e meio fundo, "é difícil comparar um atleta de uma disciplina técnica, como Nélson Évora com corredores de fundo e meio fundo". Arnaldo Abrantes, velocista e atleta olímpico com as cores nacionais, discorda e não tem qualquer problema em distinguir o atual campeão europeu do triplo salto. "Sinceramente, penso que já se pode considerar o melhor praticante português de atletismo de sempre. Por tudo: pela longevidade, pela capacidade de superação em períodos de lesões graves - não estamos a falar de problemas musculares - pelos títulos que ele já conquistou, e ele já conquistou tudo. Para mim não há grandes dúvidas que ele é o melhor atleta português de sempre, mas isso é tudo muito subjetivo", explica o atual médico do Estoril-Praia.

A barreira dos 18 metros e o dorsal
Abrantes, que foi colega de quarto de Évora em Pequim. quando o ouro olímpico foi alcançado pelo saltador, explica o que na sua opinião pode levar o atleta de 34 anos a isolar-se dos restantes três campeões olímpicos portugueses. "Se calhar em títulos ele já se destaca, mas para não haver qualquer discussão se calhar precisará de bater um recorde do mundo. Acredito que, mesmo que não consiga esse objetivo, ele não vai ficar feliz nem a cabeça dele descansará enquanto não passar a barreira dos 18 metros", refere Abrantes, sendo importante dizer que o recorde mundial é da autoria do inglês Jonathan Edwards, com a marca de 18,29 metros e perdura desde 1995.
Mas, afinal, o que pode fazer ainda Nelson Évora, nomeadamente em Tóquio 2020, "para aumentar a lenda", numa curiosa expressão usada por Arnaldo Abrantes. "O Nelson é um talento dos saltos, parece um elástico, gosto imenso de vê-lo treinar, ele tem lá tudo dentro, têm sempre que contar com ele. Ele é campeão da Europa e a Europa é o continente predominante no triplo salto, com ele tudo sempre é possível. Aliás, estou à espera que ele supere os 18 metros pois ficou de me oferecer o dorsal", revela José Carvalho.

Fonseca e Costa não faz qualquer prognóstico, mas sempre deixa escapar que "será muito difícil" Nelson Évora "sagrar-se campeão olímpico em Tóquio".
Menos taxativo e mais confiante é Arnaldo Abrantes. "Ele é a superação em pessoa. Havia peritos em atletismo que há dois anos, quando ele tinha 32, diziam que ele estava acabado e não devia voltar a saltar. Desde aí foi sexto nos Jogos Olímpicos, campeão europeu em pista coberta e ao ar livre. Se lhe disserem que ele não consegue uma medalha em Tóquio aos 36 anos essa vai ser a melhor força que lhe vão dar."

In «Diário de Notícias»