O desejo de servir a comunidade no país que os acolheu une quatro candidatos portugueses às eleições locais, que se realizam em Inglaterra a 03 de maio, e que representam a primeira experiência na política britânica.
Candidata pelo partido Conservador na área de Thurlow Park, na autarquia londrina de Lambeth, Élia Monteiro, de 35 anos, chegou ao Reino Unido há 15 anos para continuar os estudos, acabando por se formar em nutrição e enfermagem.
Sem afiliações políticas herdadas da família, a lisboeta começou o seu ativismo no serviço nacional de saúde britânico, questionando a gestão dos fundos, o que a levou a participar numa conferência organizada por mulheres do partido Conservador.
"Interessei-me em poder ajudar a comunidade de outras formas para além da saúde. Procurei na minha região o apoio do partido para me envolver mais nas iniciativas e atividades locais e daí nasceu uma nova paixão pela política", contou à Lusa.
A campanha que está a fazer incide sobretudo em questões locais e a forma como as decisões são tomadas, como a autorização de festivais de música num parque local, mas identifica-se com outros temas, como os direitos dos imigrantes e das mulheres.
"Como representante da emigração da Europa, estas eleições têm um significado amplificado pela questão do ‘Brexit’, pois serão definidos os nossos direitos ao voto e se teremos oportunidade de ser candidatos futuramente. É importante podermos eleger alguém que possa fazer esta representação na arena politica e pressionar os governos sobre os nossos interesses", vincou Élia Monteiro.
No município londrino de Tower Hamlets, Carlos Freitas, de 37 anos, diretor adjunto de uma multinacional de engenharia, quer "dar algo de volta” ao país que o recebeu há mais de uma década atrás e ao qual deve muito.
O município, um dos mais diversos do Reino Unido, onde a elevada pobreza e desemprego convivem com os arranha-céus e escritórios de instituições financeiras de Canary Wharf.
Natural de Vila Nova de Gaia, tem como temas de campanha a segurança e a redução das taxas de crime, o investimento na educação e apoio das crianças e famílias e a promoção da sustentabilidade através da limpeza das ruas e da proteção dos parques da área.
Candidato na área de Mile End, onde o partido Conservador não elege vereadores há pelo menos 20 anos, as hipóteses são reduzidas, porém Carlos de Freitas valoriza esta "oportunidade para um maior envolvimento a título pessoal em assuntos locais que dizem respeito a Tower Hamlets".
Na área de Blackwall & Cubitt Town, também em Tower Hamlets, é candidata a lisboeta Sofia Sousa, de 28 anos, dos quais três a residir em Londres por motivos profissionais.
Atualmente é responsável por uma equipa numa empresa de consultoria digital, mas sentiu vontade de ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas da zona de residência.
"Acredito que a forma mais eficaz de atingir resultados é através da política. Um Councillor [vereador] tem acesso a informação sobre os planos e orçamento do Council [autarquia], que afetam a comunidade, e pode escrutinar essa informação se não for ao encontro dos interesses dos residentes", justifica, em declarações à Lusa.
Na sua campanha, tem levantado tópicos como o elevado ordenamento urbanístico e a falta de infraestruturas, como escolas, centros de saúde, transportes, limpeza e outros serviços públicos, além de defender um reforço da segurança e mais espaços verdes.
Sofia Sousa já tinha um interesse pela política, mas só agora é que avançou para uma "experiência em atividade política que tem impacto na vida das pessoas" e refere a satisfação sentida no contacto com residentes durante a campanha.
Se for eleita, prevê, o posto implica muitas responsabilidades, como participar em "longas reuniões da autarquia e ler e perceber documentação complexa", salientando: "É precisa muita dedicação".
Fora de Londres, em Oxford, o bracarense de 39 anos Tiago Corais tem uma missão facilitada na área de Littlemore, onde o partido Trabalhista domina há muitos anos.
Dos quatro candidatos portugueses, é aquele com maior intervenção política, sendo militante do partido Socialista português desde a adolescência, e do qual é atualmente coordenador no Reino Unido.
Foi também dirigente estudantil e desde que chegou a Oxford para trabalhar como engenheiro industrial numa construtora automóvel que se envolveu ativamente em organizações britânicas.
Mas foi o ‘Brexit’ que mais pesou na decisão de se candidatar, apesar de reconhecer que o momento "não é o ideal" em termos pessoais devido a ter sido pai recentemente.
Através da sua atividade, quer "defender o ADN de Oxford, como uma cidade multicultural onde todos se sentem em casa independente da sua origem. O ‘Brexit’ coloca a todos os cidadãos a responsabilidade de participarem ativamente nas comunidades em que estão inseridos, para que, através dos seus exemplos, sejam mais um argumento de como a imigração é positiva para o Reino Unido e para o mundo".
A falta de habitação a preços acessíveis é uma das preocupações que Tiago Corais refletir no seu mandato, bem como a necessidade de melhorar a rede de transportes públicos.
Atualmente, os cidadãos europeus podem ser candidatos e votar nas eleições locais, mas o futuro dos direitos cívicos dos europeus após o ‘Brexit’ continua em aberto, pelo que esta é, potencialmente, uma última oportunidade de serem ouvidos.
"Deixar de ter voz é uma situação que me deixa um pouco desconfortável", confessou, exortando os portugueses e imigrantes em geral a mostrar na quinta-feira a "capacidade de os europeus se mobilizarem e votarem".