A emigração de professores venezuelanos, que procuram melhores condições económicas, está a comprometer o sistema educativo, que poderá colapsar em breve, particularmente nas regiões próximas das fronteiras com outros países.
O alerta foi dado hoje numa reunião de professores realizada na Universidade Central da Venezuela, centrada na necessidade de criar uma plataforma que sirva de orientação na área e para convocar os setores políticos, económicos e sociais a fim de encontrar respostas para a questão.
“Uma das coisas que mais nos angustia e que debatemos hoje, é a fuga de professores venezuelanos. Um estudo da Fundação Arturo Uslar Pietri (FAUP) dá conta que o nível é já grave e põe em risco a viabilidade de um sistema que está em ruínas”, explicou António Ecarri.
O responsável, presidente da FAUP, acrescentou que “quase 30% dos professores no activo e 30% dos docentes reformados abandonaram o sistema educativo” venezuelano, em busca de melhores condições de vida noutros países, designadamente o Equador.
“Isso faz com que a educação entre em colapso (...) o próximo ano escolar pode terminar numa catástrofe pela falta de professores”, frisou.
Por outro lado, explicou que os professores venezuelanos são os profissionais com piores condições salariais e de trabalho, considerando que “muitos ganham abaixo do salário mínimo e não têm segurança social”.
Os professores pedem um plano de urgência para o setor da educação e que sejam aplicadas propostas económicas e sociais específicas, e ainda que as escolas passem a ter cantinas para os alunos.
Segundo António Ecarri, os venezuelanos “estão apanhados num esquema socioeconómico grave, um modelo económico absolutamente atrasado, irresponsável, que levou uma nação petrolífera da América Latina a um desastre”.
“A dolarização da economia está aí, é uma realidade (...) há que começar a tomar decisões porque o país não pode continuar nesta situação tão terrível, causada pelo desespero semeado por uma perda fundamental de liderança”, disse.
A Fundação Arturo Uslar Pietri é uma instituição sem fins lucrativos, criada em 2006 para preservar o legado de Arturo Uslar Pietri (1906-2011), diplomata, jornalista, escritor, advogado e político venezuelano tido como um dos intelectuais ibero-americanos mais importantes do século XX.
A instituição promove programas que fomentam o desenvolvimento social, centrado nas letras, como forma de superar a pobreza, através do conhecimento literário, artístico e de ferramentas tecnológicas.
In «Diário de Notícias da Madeira»