Sónia e Hudson, que regressam hoje ao Brasil, estão entre os 429 imigrantes que pediram apoio através do programa de retorno.

 

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Sónia e Hudson Silva regressam hoje ao Brasil, com a filha Verónica que já nasceu em Portugal. As dificuldades económicas fizeram com que necessitassem de ajuda para comprar os bilhetes de avião para casa. Estão entre os 429 imigrantes que em 2017 pediram apoio através do programa de retorno voluntário (Árvore), número que aumentou. E 261 embarcaram

Sónia e Hudson Silva regressam hoje ao Brasil, com a filha Verónica que já nasceu em Portugal. As dificuldades económicas fizeram com que necessitassem de ajuda para comprar os bilhetes de avião para Colatina, Estado do Espírito Santo, onde têm casa. Estão entre os 429 imigrantes que em 2017 pediram apoio para regressar através do programa de retorno voluntário (Árvore). E 261 embarcaram nesse período, quase quatro vezes mais que no ano anterior (66). São em geral os cidadãos que chegaram há um ou dois anos e não conseguiram estabilidade laboral.

O casal chegou a Portugal em 2014, aguentou mais tempo do que a maioria mas só os primeiros meses é que foram bons. Nunca conseguiram enviar dinheiro para o Brasil e até receberam ajuda da pátria. "Sou pedreiro e tive uma proposta de trabalho para Portugal. Correu bem de início, o patrão fez o contrato, tudo certinho, só que o negócio começou a piorar e ele foi atrasando os pagamentos, ficou a dever-me 1500 euros. Depois fui trabalhar para um rapaz de Lisboa, o negócio foi ao ar e ele desapareceu. Um imigrante não pode viver nesta instabilidade, não tem aqui família para ajudar. Só eu, com a minha mulher, a menina e Deus", diz Hudson Silva, 28 anos. A mulher tem 29 e a filha dez meses.

"A maior parte das pessoas que pede apoio está cá há pouco tempo, há um ou dois anos. Estão desempregados ou têm um trabalho precário. Têm uma experiência migratória curta, não têm uma referência no país (família, redes de apoio) e perdem a esperança de conseguir estabilidade profissional", explica ao DN Luís Carrasquinho, o técnico da Organização Internacional para as Imigrações (OIM Portugal) e gestor do programa.
É o caso de Vanda de Sena, 61 anos, de Belo Horizonte, que regressou em outubro ao Brasil, um ano e meio depois de ter chegado. Veio para ver o neto recém-nascido e a estada prolongou-se. Decidiu ficar, mas não encontrou trabalho e teve de pedir ajuda para regressar.

"Tentei ficar de todas as formas, mas Portugal tem um defeito gravíssimo: uma pessoa com um pouco mais de idade não tem trabalho. Cheguei a dizer que ficaria sem ganhar, à experiência, não quiseram". Regressou doente mas diz que deixou as portas abertas na sua terra.

Os pedidos para apoio ao retorno aumentaram substancialmente nos anos de crise, atingindo os 2114 candidatos em 2011, ano a partir do qual começaram a diminuir. O ano passado voltaram a subir, 429 pedidos de ajuda, mais 76% do que em 2016 (244) e mais 13,5 % do que em 2015 (378). Os estrangeiros que embarcaram durante 2017 foram 261, regressando aos valores de 2015 em que retornaram 243. Em 2016, apenas 66 viajaram para o país de origem.

Esta evolução está dentro das expectativas de Luís Carrasquinho. "Quem estava em Portugal nos anos de crise foi embora, o que é também visível nos dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, que regista um decréscimo do número de autorizações de residência. Seguiram-se dois anos em que houve muito menos situações e, agora, os números voltaram ao normal, cerca 500 inscritos/ano".

No caso do casal Silva, Sónia não encontrou trabalho fixo, além de que tem uma doença rara (raquitismo hipofosfatêmico), que não lhe permite estar muito tempo de pé. Tiveram a bebé e era a mãe que fica com ela. Hudson trabalhava numa Telepizza perto de casa mas que não lhe garantia mais de 750 euros mensais. "O meu patrão é cinco estrelas, nunca deixou que faltasse leite para a menina, mas sou só eu com um salário em casa". Pagavam 250 euros mensais por um T1 em Torres Vedras.

9 em 10 são brasileiros

Os brasileiros representam a maior comunidade estrangeira em Portugal, um fluxo migratório que se tornou mais intenso neste século, o que também se reflete no número dos que acabam por regressar quando as coisas não correm bem. O ano passado, 346 brasileiros pediram ajuda (80,7 % dos requerentes) e 232 beneficiaram de apoio, 88,9 % do total (261).

Inscrevem-se no programa os imigrantes que comprovem não ter condições económicas para suportar as despesas da viagem de regresso, o que lhes garante o pagamento do bilhete e uma pequena quantia para fazer face a alguma despesa que possa surgir durante a viagem. Quem receber este auxílio ficam sem poder voltar a Portugal por um período de três anos.

Existe, também, um apoio para a reintegração no país de origem de dois mil euros, do qual vai beneficiar o casal Silva "O processo foi muito rápido, demorou cerca de um mês. Mas só vamos receber esse dinheiro no Brasil, recebemos uma parcela e só teremos a segunda depois de apresentarmos as faturas dos primeiros gastos, o que acho muito bem", entende a Sónia Silva, que era administrativa a sonhar com uma pastelaria. Negócio que já teve e que quer reabrir num espaço que preparou na habitação que estão a construir em Colatina e a que faltam alguns acabamentos. E Hudson acredita que voltará a trabalhar como pedreiro, a sua profissão.

Sónia e Hudson têm autorização de residência e não se arrependem de ter imigrado. "É uma experiência que fica para a vida, é um país diferente, a cultura, a gastronomia, e é também a nossa história", justifica Hudson. Sónia acrescenta: "Foram todos muito simpáticos, fomos bem acolhidos, fizemos amizades, não temos razões de queixa nem para arrependimentos." Voltar a Portugal é um desejo que também levam na bagagem. Voltar em visita, para conhecer o Douro, onde não chegaram a ir por falta de dinheiro Ficaram-se por Lisboa e uma visita ao Algarve.~

In «Diário de Notícias»