Diplomata entende ser importante aproximar-se não só das pessoas que residem em Caracas mas das que vivem em todo o país.
Recentemente, chegou a Caracas o novo Embaixador de Portugal na República Bolivariana da Venezuela, Carlos Nuno Almeida de Sousa Amaro, que em virtude do artigo 135 da Constituição lusitana foi nomeado para tal cargo pelo Decreto número 59/2017 do Presidente de Portugal, publicado no Diário da República.
O ministro plenipotenciário de segunda classe substitui assim Fernando Teles Fazendeiro, que vai agora para Bucareste, Roménia. Recorde-se que na passada sexta-feira 29 de setembro, o Ministro das Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela, Jorge Arreaza, manteve uma reunião com o novo embaixador que serviu para estreitar as relações de fraternidade solidariedade que existem entre as duas nações. No encontro, o Ministro das Relações Externas recebeu as ‘Cópias de Estilo’ do representante do governo luso, o que lhe permite iniciar as suas funções diplomáticas no país.
Previamente, nos finais do mês de junho, o Ministro dos Negócios Estrangeiros luso, Augusto Santos Silva, garantiu no parlamento que não haveria interrupção entre a saída do embaixador colocado em Caracas e a entrada do seu sucessor. «O posto de Roménia pode esperar o tempo que seja necessário, enquanto que os portugueses e luso descendentes na Venezuela não podem correr risco de descontinuidade», assegurou o ministro.
O novo embaixador de Portugal na Venezuela nasceu a 17 de fevereiro de 1958, na cidade de Lisboa e é Licenciado em Artes pela Universidade do Cabo, para além de ter uma licenciatura em Relações Internacionais pela Universidade da África do Sul. A sua carreira no Ministério dos Negócios Estrangeiros português iniciou no ano de 1989, na Direção de Serviços de Vistos e na Direção de Serviços de Proteção Consularda Direção Geral de Assuntos Consulares. Integrou a Missão de Observadores da Comunidade Europeia para o processo de transição do ‘Apartheid’ para a democracia, de 1993 a 1994, e assumiu funções na Embaixada de Portugal em Varsóvia, Polónia em 1994. Desempenhou funções de observador de Portugal junto da Missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para as eleições e referendo na Bielorrússia. No ano de 1998, ocupou o cargo, em Saraievo, de chefe de Gabinete do Alto Representante da Comunidade Internacional para a Bósnia e Herzegovina, e em 1999 foi transferido para a Embaixada de Portugal em Paris, França, para conduzir as pastas relacionadas com a União Europeia.
Em 2000, integrou o Núcleo dos Balcãs durante a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia. Foi Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e de Cooperação, em 2003 e em 2004 chefe de divisão nos Serviços de Mercado Interno e de Questões Científicas, Tecnológicas e Industriais na Direção Geral dos Assuntos Comunitários. De 2006 a 2008 exerceu as funções de Chefe de Gabinete do Secretário Geral do Ministério de Negócios Estrangeiros.
Carlos de Sousa Amaro, mais recentemente, também foi Cônsul Geral de Portugal em Vancouver, Canadá, e em Manchester, Reino Unido.
Como recebeu a notícia de sua nomeação para a Embaixada de Portugal na Venezuela?
Fiquei muito feliz. O entusiasmo pela perspectiva de vir para aqui foi grande, pois é a minha primeira vez na América do Sul, visto que uma boa parteda minha carreira esteve ligada às questões da União Europeia.
Em termos de carreira é um grande desafio.
Acredita que a aproximação à comunidade é fundamental para conseguir desenvolver um bom trabalho?
Sem dúvida que sim. Em jovem, vivi na África do Sul, o que acho me deu sensibilidade para as questões das comunidades portuguesas. Além disso nos últimos nove anos fui Cônsul Geral, tendo-me esforçado para desenvolver um trabalhado de proximidade com as respetivas comunidades. Desde que cheguei também tenho tentado aproximar-me da comunidade, não só a de Caracas, mas a de todo o país. Logo na primeira semana contatei com a comunidade de Valencia, Estado Carabobo. Tivemos uma reunião no Consulado com os Conselheiros das comunidades e os dirigentes das instituições lusas na jurisdição.
Na segunda semana tive uma reunião aqui em Caracas com os conselheiros da região oriental do país, com o Padre Alexandre Mendonça da Missão Católica Portuguesa e com o presidente da Associação de Luso Descendentes da Venezuela. Já temos agendadas outras saídas para conhecer outras instituições. Neste contexto, gostaria de destacar o facto do Dr. Gonçalo Capitão, Adido Social da Embaixada, ter já realizado uma ronda por 21 dos 23 Estados do país, integrado num roteiro social solicitado pelo Senhor Secretário de Estado das Comunidades. O objetivo deste Roteiro é auscultar o maior número possível de portugueses e luso-descendentes em todos os estados da Venezuela. Também no âmbito deste trabalho teremos a visita do Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, entre 27 e 30 de outubro, que se irá deslocar a Maracaibo para estar presente em mais uma destas jornadas com a comunidade residente naquela região.
Qual foi a sua primeira impressão sobre a comunidade lusa que reside na Venezuela?
Fantástica. Surpreendeu-me encontrar pessoas de segunda e terceira geração a falar muito bem a língua portuguesa. Nestes primeiros dias, tenho encontrado muitos portugueses que vieram para cá muito jovens e que à custa do seu esforço e muito trabalho singraram e tiveram muito êxito, o que na verdade é um orgulho para todos os portugueses. Também encontrei uma esplendida equipa de trabalho na Embaixada e nos Cônsules Gerais.
Em determinado momento, os intercâmbios bilaterais estão um pouco mais calmos. Qual é a sua política?
Tenho que ter uma forte dose de otimismo e realismo ao mesmo tempo que eu tento equilibrar. Atualmente, temos empresas portuguesas que, embora tenham reduzido os meios, continuam a operar aqui. Em geral, estas empresas e outras aguardam uma oportunidade, continuam otimistas e acreditam que futuramente poderão retomar o nível de atividade económica que caracterizou a sua atividade de há alguns anos.
Atualmente, estamos a acompanhar muito de perto as eleições de 15 de outubro. Como sabemos, Portugal apoia o diálogo entre as várias forças políticas e temos esperança de que isso conduza a uma substancial melhoria económica da população e que permita que as nossas empresas continuarem a desenvolver o trabalho que já iniciaram.
Que convénios continuam atualmente a ser feitos?
O Grupo Lena e a empresa Teixeira Duarte continuam os seus trabalhos de construção e engenharia, ao abrigo dos convénios que assinaram no passado. Da mesma forma, na área tecnológica, a empresa Pro Lógica continua a oferecer assessoria ao Projeto Canaima educativo no que se refere à produção de computadores escolares.
Outra das empresas que atualmente está em novas negociações é a Iguarivaris, de carne bovina. Há vários convénios que continuam em execução e outros que aguardam pelo arranque.
Como é que Portugal se prepara para uma possível migração em massa proveniente da Venezuela?
Portugal atravessou uma crise económica bastante profunda, mas atualmente todos os nossos indicadores agora são positivos e apontam para uma melhoria. Apesar das nossas próprias dificuldades,no que se refere a receber os portugueses que estão a partir da Venezuela, já existem medidas de apoio para os receber e continua a ser analisada a melhor forma de como isso poderá ser levado a cabo.
As autoridades portuguesas têm acompanhado muito de perto os acontecimentos aqui na Venezuela e farão o possível para suavizar esse processo para os portugueses e luso-descendentes, o qual tem sido em alguns casos complicado e mesmo traumatizante. A procura de emprego é uma das questões fundamentais para a integração e para que tenham os seus próprios meios de sobrevivência. Por isso, as nossas autoridades têm-se esforçado para encontrar formas de tornar possível uma bem-sucedida integração dos cidadãos ao nível social, económico e cultural. As Jornadas de que falei há pouco também têm servido para termos conhecimento das dificuldades enfrentadas pelos familiares que já partiram ou tencionam partir.
Ao nível consular, o que acha que pode mudar no país?
Recentemente, chegou o novo Cônsul Geral à cidade de Valencia e há uma semana chegou uma colega a Caracas. Estes dois diplomatas têm demonstrado grande interesse em melhorar as condições de trabalho do consulado. Posso adiantar que já estão a caminho equipamentos mais modernos para os consulados que visam tornar o atendimento dos utentes mais célere e, também para este fim, continuamos a envidar esforços para o reforço dos recursos humanos.
Qual é a sua linha de ação?
Na vertente económica, já tive várias iniciativas em conjunto com o Conselheiro Económico, para a promoção dos nossos interesses na Venezuela. A conjuntura não é melhor, pelo que devemos ter uma visão bastante realista. Farei tudo, dentro do possível, para continuar a promover as nossas empresas neste país e procurar novas oportunidades.
No que se refere ao ensino da nossa língua, estamos já, isto é, eu e o Conselheiro Cultural, a trabalhar no sentido de reavivar um convénio que foi assinado com uma universidade de Valencia para o ensino da língua portuguesa, para além de procurar outras opções para a expansão da língua.
No que se refere às relações entre os nossos dois países, as quais já foram muito estreitas e ainda o são em muitos aspetos.A Venezuela ainda continua a ser um país prioritário para Portugal. Como tal, esse será o meu objetivo: assegurar que a Venezuela continue a ser para Portugal um país prioritário e que o nosso país também o seja para a Venezuela.
A sua mensagem para a comunidade...
Uma palavra de alento para todos os portugueses na Venezuela que estão a atravessar uma fase difícil e recordar-lhes que as autoridades portuguesas dão muita atenção e acompanham de perto o que se passa neste país.