O cônsul-geral de Portugal em Barcelona admite que os portugueses que estão há mais tempo na Catalunha têm uma “certa preocupação” com a situação política, mas esperam que “a situação volte à normalidade” rapidamente.

 

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“Apesar da instabilidade política que se vive, a verdade é que, à parte os incidentes [no dia] do referendo, a situação é pacífica”, assegura Paulo Teles da Gama, dando como exemplo a grande manifestação com centenas de milhares de pessoas que teve lugar este domingo em Barcelona.

O Governo central espanhol e a região da Catalunha vivem momentos de grande tensão, com os separatistas, que dominam o Governo e o parlamento regionais a ameaçar declarar a independência esta terça-feira.

Há uma semana houve uma manifestação com centenas de milhares de pessoas a protestarem contra as cargas policiais do dia da consulta pública e este domingo uma concentração de dimensão idêntica pediu a unidade de todos os espanhóis contra os movimentos separatistas fora da lei espanhola.

Os portugueses que pretendem deslocar-se a Barcelona devem vir “com tranquilidade e seguirem as instruções de segurança que são dadas pelas autoridades. Sem alarmismos excessivos”, afirma Paulo Teles da Gama.

Há cerca de 14.000 portugueses inscritos no consulado de Barcelona, no que é uma comunidade “de nível médio, alto”, com muitos licenciados e mestrados a trabalharem nos mais variados sectores de actividade.

O investigador e professor de Ciências Políticas André Pirralha também garante que, neste momento, “o dia-a-dia é de absoluta tranquilidade” na Catalunha”.

“Em casos mais específicos pode haver alguma discussão no seio da família ou entre amigos, mas eu não chegaria ao ponto de que se está a viver uma rotura social na Catalunha”, defende Pirralha.

A justiça espanhola considerou ilegal o referendo sobre a autodeterminação da Catalunha realizado em 01 de Outubro último pelo governo regional e deu ordem para a polícia regional, os Mossos d’Esquadra, selarem os locais das assembleias de voto.

Perante a inacção da polícia catalã em alguns locais, foi chamada a Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola, que protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo, realizando cargas policiais sobre os eleitores e forçando a entrada em várias assembleias de voto ocupadas de véspera por pais, alunos e residentes, para garantir que permaneceriam abertas.

Há quem tente “passar a mensagem de que se está a viver num estado de pré-revolução, mas não é esse o caso, de todo”, insiste o professor e investigador português, acrescentando que “a tranquilidade é absoluta”, apesar da existência de “episódios bastante pontuais de violência”.

O Governo catalão anunciou oficialmente na passada sexta-feira que o “sim” à independência obteve 90,18% dos votos no referendo de autodeterminação.

Uma vez proclamados os resultados do escrutínio, a chamada Lei do Referendo, que o parlamento catalão aprovou a 06 de Setembro e que foi suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol, estipula que a Declaração Unilateral de Independência (DUI) seja emitida num prazo de 48 horas.

Como o fim de semana não é contabilizado para este efeito, o prazo estende-se até terça-feira, 10 de Outubro, tendo Carles Puigdemont previsto uma ida ao parlamento regional para “informar da situação política actual”, não havendo qualquer referência à Lei do Referendo suspensa pelo Constitucional, nem a uma eventual Declaração Unilateral de Independência.

Acho que os Catalães querem apenas “que haja o reconhecimento da Catalunha como uma nação dentro de Espanha”, conclui André Pirralha.

In «Diário de Notícias da Madeira»