O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse hoje na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, que “a emigração segura não pode estar limitada a uma elite”.

“Em vez de negação e estigmatização, precisamos de uma abordagem realística que aumente as oportunidades e caminhos legais, o que traria grandes benefícios aos emigrantes e às sociedades a que se juntam”, disse António Guterres.

 

Antonio Guterres

 

O secretário-geral falava num evento à margem da Assembleia-Geral dedicado aos refugiados e emigrantes, que pretendia celebrar um ano desde a assinatura da Declaração de Nova Iorque, dedicada a estas populações.

Segundo Guterres, esta declaração coloca a comunidade internacional no caminho de adotar dois documentos fundamentais: o compacto global sobre refugiados, e o compacto global para emigração segura, legal e ordeira.

“Estamos agora a meio caminho para chegar a um acordo sobre estes compactos. Apesar de tudo o que foi conseguido, ainda existe muito trabalho por fazer”, disse.

O secretário-geral enumerou depois cinco prioridades de trabalho: restabelecer a integridade do regime de proteção dos refugiados; desenvolver mecanismos nacionais e internacionais de cooperação; criar maior responsabilização para os traficantes e contrabandistas de seres humanos, e, finalmente, criar respostas para um mundo de trabalho em mudança.

“Dos muitos desafios globais que enfrentamos, a mobilidade humana é uma das mais paradoxais e mal representadas”, disse Guterres, citando um exemplo: o número de refugiados do Sudão do Sul que entrou no Uganda no ano passado foi três vezes maior do que o número dos que atravessaram o Mediterrâneo.

“Mas todos sabemos que o movimento de travessia do Mediterrâneo criou uma crise de confiança pública e debate político em muitos países, enquanto no Uganda - um país relativamente pequeno e com um povo enormemente generoso - passou largamente sem ser noticiado pelos média”, referiu Guterres.

O secretário-geral disse ainda que “a vasta maioria dos refugiados é acolhida por países em vias de desenvolvimento” e que “a emigração do sul para o sul ultrapassa agora a do sul para o norte”.

“Muitas das perceções negativas sobre os chamados ‘emigrantes económicos’ alimentam xenofobia e intolerância, mas têm como base noções falsas e análises pobres. Os média têm um papel crucial a desempenhar, distinguindo factos de ficção e desconstruindo os estereótipos que cresceram sem qualquer base na realidade”, concluiu o português.

In Diário de Notícias da Madeira