Le Havre, cidade francesa da Normandia, acolhe uma grande comunidade de emigrantes portugueses que se dedicam a diversas áreas de atividade e reencontram o país natal através da gastronomia e das tradições populares, como o rancho folclórico.
A cidade portuária comemora 500 anos e encerra uma história marcada pela grande destruição provocada durante a Segunda Guerra Mundial. Foi também o trabalho de reconstrução do centro da cidade, projetado pelo arquiteto Auguste Perret, que levou à classificação de Le Havre como Património Mundial da Humanidade em 2005.
Por este território espalham-se muitos emigrantes portugueses, provenientes de várias regiões de Portugal.
Longe da pátria mãe, alguns deles encontram no Rancho Orgulho Português do Havre um “cantinho de Portugal”.
Todas as semanas ensaiam à sexta-feira, num salão cedido pela junta de freguesia local. São de todas as idades e de todos os cantos de Portugal, desde a Madeira, a Braga, Porto, Lamego ou Mêda. Uns emigrantes de primeira geração e outros já filhos nascidos em França.
“O rancho é aquilo que mais nos mantém unidos. É como uma corda”, afirmou Manuel Freitas Rosa, um madeirense que vive há 43 anos em Le Havre, onde chegou com apenas 16 anos.
Trabalha na área da construção e conta que já houve mais emigrantes portugueses nesta região. Para alguns dos que aqui permanecem é no rancho que se encontram e reencontram Portugal.
Bernadette Rocha Moura é cabeleireira e já nasceu na cidade francesa, para onde a mãe Maria Alfreda emigrou há 46 anos, vinda de Braga.
Mãe, filha e também já a neta, que compreende mas não fala português, juntam-se neste grupo para manter viva a tradição portuguesa.
“Esta é a nossa família do rancho”, afirmou Bernadette.
Maria Alfreda disse que “adora este bocadinho de Portugal”, o país natal para onde quer regressar. “Estou com ideias porque já estou na reforma, trabalhei 25 anos num hotel e agora queria regressar para Portugal porque tenho lá casa”, salientou.
António Araújo é dono do restaurante Arcade Portugaise, que abriu há 32 anos e onde possui uma pequena loja que vende produtos portugueses, como vinhos, conservas ou azeite.
Emigrou aos 16 anos para fugir à tropa e já está em Le Havre há 47 anos. Transformou a Arcade numa montra da “boa gastronomia portuguesa” e onde confeciona bacalhau, carne de porco à alentejana e leitão.
Faz questão que os clientes vão espreitar o leitão a sair do forno porque diz “que é melhor publicidade que faz ao restaurante”, onde a grande maioria dos clientes é francesa.
António Araújo foi presidente do Sport Clube Portugueses do Havre, que chegou a ter oito equipas de futebol.
A comunidade de emigrantes, recordou, “já foi maior”. A crise na construção civil e a dificuldade em arranjar emprego obrigou a sair para outras regiões ou países, mas ainda são muitos os que vivem nesta região chuvosa da Normandia.