Um dos grandes desafios do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa (CPCLP) do Instituto Politécnico de Macau (IPM) é garantir a manutenção, com qualidade científica, da rede que ajudou a criar entre universidades chinesas. Temos entre oito a 10 anos pela frente para mostrarmos aquilo de que somos capazes”, afirmou à Lusa o director do CPCLP, Carlos André.

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Nesse período, as universidades chinesas terão “pelo menos 10 ou 12” professores doutorados em estudos de língua portuguesa. Actualmente há um doutorado, “portanto o xadrez muda”, disse. “Claro que entretanto, o sistema também vai crescer e acredito que nos próximos seis a sete anos, o número das universidades chinesas com português irá das actuais 37, pelo menos, até às 50”, acrescentou.

De uma situação em que o português era ensinado em seis universidades há 10 anos, verificou-se este “crescimento brutal” que transformou o ensino da língua portuguesa “uma realidade académica com conteúdo científico”.

A título de exemplo, Carlos André destacou a participação de 16 académicos chineses no 12.º congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, que decorreu na passada semana em Macau.

“O número de participantes de académicos chineses, que apresentaram comunicações de grande qualidade, tem a ver com isso, com o desejo de pertencerem a uma comunidade científica”, adiantou.

O que falta fazer pela difusão do português na China, é prosseguir o “projecto consistente” do IPM, anterior à criação do CPCLP, mas que o centro foi reforçar: formação específica de professores de português como língua estrangeira, rede de contactos entre universidades, produção de materiais e abrir caminho à publicação de trabalhos académicos.

“Nos últimos dois anos devemos ter dado 20 acções de formação em universidades no interior da China (...) Ao todo, o centro já deu formação a 190 professores no interior da China”, disse.

Este ano, o centro deverá publicar dez livros especificamente criados para a China e feitos por professores chineses. Esta parceria dá a coautoria aos docentes chineses, “que têm consciência dos problemas por serem chineses e ensinarem português no interior da China”, e torna esses livros “muito mais úteis”.

O contacto do CPCLP com as 37 universidades chinesas onde se ensina português é permanente, assegurou Carlos André. “Os docentes do Centro não se atrevem a ser detentores do saber e senhores da receita porque quem sabe o problema está no interior da China”, frisou.

O interesse pelo português nos estabelecimentos de ensino superior chineses é um movimento das próprias universidades. O centro teve apenas alguma responsabilidade na conversão deste movimento numa rede, entre universidades que “não falavam muito entre si”.

“Se alguma responsabilidade temos foi ter ajudado a converter isto numa rede, num trabalho de ‘missionação’, a circular entre universidades”, considerou o responsável. “A existência da rede deve, provavelmente, muito à nossa actividade”.

“Manter essa rede e ajudar a definir as regras do sistema, com muita serenidade, humildade e respeito, porque não temos o direito de interferir no sistema educativo chinês, cuja organização interna e regras fundamentais competem às autoridades chinesas”, ressalvou Carlos André.

E concluiu: “Só queremos ajudar a construir essa rede e fazer com que ela funcione com qualidade científica. Se quiser falar de um sonho, este é o sonho."

In Público