Jéssica da Conceição é uma jovem de 19 anos.

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Nasceu em St. Helier, Jersey, filha de pais madeirenses ali radicados. Os pais de Jéssica debandaram há mais de 20 anos, procurando condições de vida para si e para a família que pretendiam construir. Não se quiseram resignar à “vidinha mais ou menos” a que julgavam estar condenados se por cá ficassem. Queriam uma vida, uma vida boa - afinal, ambição legítima de todos nós! -que lhes permitisse possuir habitação própria, os carros dos seus sonhos, a possibilidade de viajar e conhecer mundo, o poder para financiar a excelência da educação dos filhos que haveriam de ter. Enfim, ambicionavam a liberdade financeira que esta ilha não lhes garantia.

Por isso, partiram para outra (ilha), como tantos outros, atrás de sonhos tantas vezes sonhados.

Entretanto, constituíram família e por lá foram ficando, naquele labor diário a que se dedicam todos aqueles que se mantêm firmes às suas ambições e que não estão dispostos a abdicar daquilo que consideram ser seu, mais por sacrifício, suor e trabalho do que por direito!

Jéssica da Conceição é a filha mais nova desse casal. Jovem de sorriso bonito e verbo fácil – se puxarmos por ela! –, fez todo o seu percurso escolar naquela Ilha do Canal.

Fui encontrá-la no Portuguese Food Festival, onde me confidenciou ter três grandes paixões na vida: a família, a Madeira e os carros. E aqui é que se distingue Jéssica de outros jovens filhos de madeirenses emigrados: apesar da naturalidade jerseyana, de ter vivido toda a sua vida naquela ilha, Jéssica assume ser madeirense e é para esta ilha que quer vir viver já este ano, terminados os estudos em mecânica.

A razão pela qual pretende emigrar da terra natal é simples: o amor à Madeira, à cultura e à identidade madeirense, que a fazem sentir-se estrangeira na terra onde nasceu. Jéssica não gosta de ser considerada “jerseyana, filha de madeirenses”, antes assume-se como madeirense que nasceu em Jersey. E por isso vai partir em breve para se juntar a nós, nesta nossa terra que, afinal, também é dela.

Jéssica parte daquela ilha com a mesma convicção e firmeza com que os seus pais para lá migraram, assumindo que as dificuldades que por cá poderá encontrar não se comparam à frustração e à dor que a ausência da sua Madeira lhe provocam. Parte, mesmo sabendo que o trabalho é incerto e que os salários praticados não são comparáveis aos vencimentos daquela economia. Parte porque está convencida que é aqui que irá ser feliz e que, mesmo afastada de pais e irmãos, estará entre família. Parte, porque quer ajudar os que cá ficaram a construir um melhor futuro para esta terra.

É destes jovens que necessitamos. É nas mãos destes jovens que está o futuro da Madeira. E não foi necessário prometer baixas nas taxas de IRS ou facilidades nas contribuições sociais ou outras medidas avulsas que, não obstante a sua bondade, são ineficazes e até iníquas.

E como a Jéssica da Conceição, de Jersey, há muitos outros jovens, de diversas outras comunidades que tradicionalmente acolheram os nossos conterrâneos, a querer (re)tornar à terra que sentem ser sua. Jovens que trazem aprendizagens, formação e mundo! Jovens que trazem sonhos, desejos e ambições. Jovens que querem construir o seu futuro entre nós.

E que podem contribuir indelevelmente para o nosso desenvolvimento. Assim saibamos nós, os que por cá ficaram, os receber e acolher, percebendo que com isso estamos a fazer mais por nós do que por eles! Porque somos nós que ficamos a ganhar!

Sê bem-vinda, Jéssica.

* Título de dois romances de Horário Bento de Gouveia.

In «JM»