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É já a partir de amanhã, dia 14, que ficará patente ao público no átrio do Museu Etnográfico da Madeira (MEM), a exposição temporária ‘Artefactos em cana vieira: gaiolas e alçapões’.

MuseuEtnografico

A mostra traz a público a colecção de gaiolas e armadilhas, em cana vieira, que fazem parte do acervo do MEM. Pretende-se divulgar o ‘saber-fazer’ associado a esta actividade tradicional, testemunhos preciosos do nosso património imaterial, recolhidos em trabalho de campo, para inventariação e contextualização das peças do acervo. Em última instância pretende-se valorizar e divulgar estas actividades artesanais tradicionais, que tanto nos identificam, mas que correm o risco de extinção, apelando à sua preservação.

A cana vieira, cana de roca ou cana-do-reino (Arund Donax), planta disseminada por todo o arquipélago, desenvolve-se tanto nos terrenos à beira mar, como na montanha. É facilmente reconhecível pelos tufos que formam os seus caules, longos e erectos, de uma cor verde clara, inconfundível. O ciclo de crescimento do colmo é de um ano. Atinge a sua maior altura em Dezembro, nos terrenos alagados, mas ali é menos resistente. Em áreas de sequeiro desenvolve-se menos, mas é mais forte. A época de corte é antes da Primavera, operação designada popularmente por “ensocar” as canas.

Esta matéria-prima era utilizada antigamente na produção de inúmeros artefactos, nomeadamente cestaria, brinquedos, instrumentos musicais e outros utensílios utilitários, como é o caso das tradicionais gaiolas e armadilhas para pássaros (alçapões ou gangorras) patentes nesta exposição.

A produção dos artefactos apresentados nesta exposição possui uma longa tradição na nossa Região. Antigamente, depois de confeccionadas pelos artífices, as gaiolas eram transportadas com pássaros até às feiras e mercados onde eram comercializadas. Com a evolução tecnológica perderam grande parte do seu valor utilitário, o que quase levou à extinção desta actividade artesanal. Actualmente é conhecido apenas um artesão que as confecciona e comercializa, no concelho da Ribeira Brava e são procuradas essencialmente para fins decorativos.

A colecção de gaiolas e alçapões mais antigos pertencente ao acervo do Museu Etnográfico da Madeira, que se encontra em reserva é, na sua maior parte, da autoria de Agostinho Vasconcelos, um profundo conhecedor do artesanato tradicional madeirense e que tem colaborado com o museu em vários projectos pedagógicos e culturais e de Manuel Ferreira Júnior, um artífice natural do concelho das Ribeira Brava, já falecido, que nos anos 90 do século passado nos transmitiu o seu ‘saber-fazer’ e o qual pretendemos homenagear.

Dessa colecção em reserva fazem ainda parte outros artefactos, da autoria de diferentes artesãos, recolhidos em trabalho de campo ao longo dos últimos vinte anos.

Estão ainda patentes ao público o alçapão de Afra Nunes residente no Sítio da Ribeira das Galinhas, freguesia do Paul do Mar, concelho da Calheta, que durante longos anos dedicou-se a esta arte e a gaiola de Avelino de Abreu Nunes, artesão que actualmente exerce o ofício no Sítio da Pedra Mole, freguesia do Campanário, concelho da Ribeira Brava.

Estes dois artesãos permitiram que o Museu efectuasse, este ano, o levantamento completo da cadeia operatória da confecção de gaiolas e alçapões, que dão nome a esta exposição, permitindo completar o registo destes testemunhos do património imaterial da Região.

Recorde-se ainda que a mostra está inserida no projecto do MEM ‘Acesso às colecções em reserva’ criado com o objectivo de proporcionar uma maior rotatividade das colecções que não se encontram expostas ao público de uma forma permanente, e apresentando-as, trimestral ou semestralmente, como uma nova temática, no átrio da instituição.

in Diário de Notícias da Madeira