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Com nove anos de idade já velejava em cima de uma prancha de windsurf. Aos 20 chegou aos Jogos Olímpicos, em Barcelona e desde então o madeirense João Rodrigues não falhou nenhuma edição, somando agora sete olimpíadas, e ao qual irá juntar o ‘título’ de porta-estandarte da missão portuguesa.

senhorOlimpo

Ao escrever o título ‘O Senhor do Olimpo’ tudo leva a pensar que estamos a nos referir a algum Deus do Olimpo, da mitologia grega. No entanto o tema prende-se com o maior evento desportivo do Mundo, os Jogos Olímpicos, e apresentar aquele que é sem dúvida um ‘mito’ do desporto português e regional ao mais alto nível internacional.

Assim podemos muito bem falar de alguém que durante 24 anos, dedicou-se grande parte da sua vida a levar a Madeira e Portugal às olimpíadas, num total de 7 Jogos.

Sim estamos a falar do velejador madeirense que muito bem se pode defini-lo como o Senhor do Olimpo, ou o Senhor dos Olímpicos.

Após uma aventura ao mais alto nível, eis que ‘JR7’ dos mares despede-se daquela que será a sua última ‘velejada’ nos Jogos, mais concretamente nas águas do Rio de Janeiro.

Antes de rumar à cidade brasileira, João Rodrigues fez questão de recordar as seis olimpíadas anteriores, bem como abordar a sua sétima, e aquilo que poderá ser o seu futuro.

Esta longevidade em termos de Jogos Olímpicos tem uma única razão de ser. “A paixão à primeira vista pelo mar, pela vela, nomeadamente a prancha à vela.

Tudo começou aos nove anos e nunca mais parei o que me levou a criar um estilo de vida que com o passar dos anos ajudou-me em muito a melhorar o meu desempenho como atleta e como ser humana”, começou por apontar o madeirense de 44 anos.

João Rodrigues admite que a qualificação para o Rio’2016 foi mesmo conseguida na última oportunidade e que agora, o importante é se divertir ao máximo não pensando nos resultados. “Quero fazer, boas regatas, boas largadas, adaptar-me bem às condições e lidar com tudo o que tem a ver com os Jogos Olímpicos. Tudo o que vier vai ser bom e não penso muito nos resultados. São os meus derradeiros Jogos e vou-me dar ao luxo de não pensar nisso”, afirmou aquele que já ostentou títulos de campeão mundial e europeu.

Ao longo de seis olimpíadas o madeirense nunca conseguiu festejar um pódio e admite que no passado essa questão afectou-lhe um pouco. “Actualmente vivo bem com essa situação, mas custou-me muito no passado. Estive muitas vezes com favorito às medalhas nos Jogos mas isso acabou por não acontecer, nomeadamente em Atenas’2004 onde terminei com o sentimento que podia ter ido um pouco mais longe.”

“É verdade que deve ser o único resultado que falta na minha carreira, mas eu aprendi a viver com isso, quem sabe se o meu papel não era ganhar uma medalha, mas conquistar sete presenças em Jogos Olímpicos”, acrescentou para logo depois aliar esta temática ao facto de ser pela primeira vez porta-estandarte da missão portuguesa.

“Se calhar o meu papel neste percurso todo não foi ganhar medalhas, mas foi construir uma carreira com o olimpismo como pano de fundo ao longo destes anos todos. Vivi os últimos 28 anos em ciclos de quatro anos, em ciclos olímpicos e no final vou ser eu o porta-estandarte e isso é o que dá significado a estes anos. Se calhar o meu papel nos Jogos Olímpicos era este”, rematou.

Quanto ao futuro, este engenheiro civil não tem ainda qualquer plano B, mas prepara-se para escrever novo Livro, depois do ‘Crónicas de um Velejador’ e do ‘Vagabundo dos Mares’. “Findo os Jogos no Rio de Janeiro vou começar a escrever novo livro, que está em branco, e vou começar de novo com os meus 44 anos de idade. Devo admitir que isso assustou-me algumas vezes, mas agora acho fascinante o facto de poder escrever uma linha de cada vez no resto da minha vida.

Estabeleci para mim mesmo que não me ia preocupar com o dia seguinte, portanto não tenho um plano B, não tenho nenhum plano para o pós-Jogos Olímpicos”, assumiu.

João Rodrigues quer acabar essa aventura olímpica como começou: Tentar ir mais longe, ser mais rápido e mais forte e viver todos os momentos dos Jogos, aqueles que irão ser os últimos, após a chama olímpica se apagar na cidade brasileira.

Para a história ficará o atleta português com mais olimpíadas até ao momento, e ficará conhecido por muitos os que o rodeiam e não só como o madeirense ‘Senhor do Olimpo’.

Na primeira pessoa:

Barcelona’1992
Gostei tanto de Barcelona. Foi como se mergulhasse num mundo mágico, onde tudo era possível, desde que se tivesse coragem de sonhar. Veio a cerimónia de abertura dos JO e a minha vida nunca mais seria a mesma. Iniciou-se aqui um dos melhores períodos da minha vida, sob todos os pontos de vista.

Atlanta’1996
“Nesta Olimpíada, tive o prazer da companhia da minha compatriota Catarina Fagundes, a segunda mulher madeirense a qualificar-se para uns JO, depois da estreia da judoca Paula Saldanha em Barcelona.
Diariamente, antes e durante os JO, lidámos com as sucessivas tempestades de fim de tarde, tão típicas da zona. Num instante, a temperatura caía 20 ºC, chovia por instantes com uma intensidade apocalíptica, apimentada por relâmpagos estrondosos.”

Sydney’2000
“Esta olimpíada marcou a estreia do terapeuta João Carvalho em edições dos Jogos. Ele que foi o maior responsável pela longevidade da minha carreira desportiva e que me permitiu redescobrir o mais maravilhoso instrumento à minha inteira disposição: o corpo humano! Sydney’2000 foi mais um marco especial na minha vida.”

Atenas’2004
“Um mês antes dos JO, nenhum de nós, velejadores, treinadores, turistas mesmo, acreditava que os gregos conseguiriam ter tudo pronto a tempo da cerimónia de abertura. Mas eles conseguiram, para surpresa e espanto de todos. Fiz uns belos Jogos e consegui um sexto lugar final, o melhor até então e por pouco não festejava o lugar no pódio.”

Pequim’2008
“40 mil voluntários para 10 mil atletas! Milhões concorreram para combater uma invasão de algas no campo de regatas dos JO em Qingdao, 150 mil pessoas “apareceram” para bem dos velejadores. Poderia continuar a debitar números indefinidamente, tudo para demonstrar a dimensão dos anfitriões desta Olimpíada. Em termos competitivos por pouco não entrei na regata das medalhas.”

Londres’2012
“Vive um mês de Agosto mais frio da minha vida mas mesmo assim conseguiu o 14.º lugar à geral. Pensei que esses seriam os últimos Jogos, mas quando descobriu que os próximos seriam Brasil pensei para mim mesmo: O Rio de Janeiro é a minha segunda casa…”

BI:

Nome: João Filipe Gaspar Rodrigues
Data de nascimento: 2/11/1971 (44 anos)
Modalidade: Vela
Presenças olímpicas: 7
Barcelona’1992 - 23º lugar
Atlanta’1996 - 7º lugar
Sydney’2000 - 18º
Atenas’2004 - 6º
Pequim’2008 - 11º lugar
Londres’2012 - 14º lugar
Rio2016 - ?

in Diário de Notícias da Madeira