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A comunidade madeirense no Brasil olha para a Região Autónoma da Madeira como uma referência, em termos de combate à pandemia da covid-19.

RA BRASIL

 

Com o número de novas infeções diárias a estabilizarem nos 3.000 casos, isto numa população de 211 milhões de habitantes, o Brasil olha agora para a forma como a crise pandémica foi gerida nos últimos meses, uma vez que aquele país sul-americano liderou os números mundiais de novos casos diários e de óbitos.

“A forma como o governo regional implementou as medidas, e como elas foram recebidas e respeitadas por toda a população tem servido de estímulo para a comunidade madeirense no Brasil”, disse ao DIÁRIO o diretor regional das Comunidades e Cooperação Externa, Rui Abreu, no final de uma reunião por videoconferência, mantida com as duas Conselheiras da Diáspora Madeirense no Brasil, Maria Sardinha e Cátia Ornelas.

“Mantendo toda a economia a funcionar, a Região conseguiu diminuir de forma acentuada o número de infeções e de óbitos, através da implementação de medidas como o distanciamento social, a obrigatoriedade da utilização de máscaras, a higienização das mãos e o recolher obrigatório”, sublinhou o governante, que ouviu elogios e preocupações das duas conselheiras.

Elogios, porque, como referiu Maria Sardinha, a Madeira é vista como um “porto seguro”, um exemplo de que é possível continuar com a economia a funcionar desde que sejam mantidos os cuidados sanitários. “E isso dá-nos força para continuar a fazer a nossa parte, mesmo no Brasil”, disse a conselheira, lamentando a falta de coordenação do Governo Federal, com os governos estaduais e municipais.

“Na Madeira, tudo foi muito bem coordenado, aqui no Brasil não. Aconteceram falhas, mesmo tendo mais tempo para se preparar para a segunda vaga, que chegou quatro meses depois de ter atingido a Europa”, acrescenta Maria Sardinha, dizendo que neste momento todas as atenções estão viradas para a Comissão Parlamentar de Inquérito à Covid-19, criada no Senado, que vai debruçar-se sobre a forma como governo brasileiro tem gerido a pandemia. “Penso que todos percebem no Brasil que o país poderia estar melhor do que está, mas mais importante do que saber quem errou, é perceber onde e como se errou para não repetir essas falhas”, resume a Maria Sardinha.

Numa altura em que o Brasil ultrapassou já as 392 mil mortes associadas à covid-19, e que a variante de Manaus se tem revelado mais mortífera entre uma faixa etária mais jovem (40-50 anos), o país está a tentar acelerar os processos de vacinação. Até ao momento, segundo dados oficiais, 5% da população já foi inoculada com as duas doses, e 15% recebeu a primeira vacina. O Brasil, explica a conselheira Cátia Ornelas, tem capacidade de produção de vacinas, através de licenciamento dos principais laboratórios, o problema tem sido ter acesso às matérias-primas necessárias.

Mesmo com o número de novos casos diários a estabilizar, a situação no país continua difícil. Cátia Ornelas, lembra que as fronteiras de muitos países estão fechadas para o Brasil, e defendeu que não resta outra opção, para diminuir o contágio, que não seja o confinamento efetivo. “O confinamento está implementado em vários estados, mas raramente atinge a percentagem necessária para ter um efeito realmente significativo. É preciso que pelo menos 70 a 80% da população esteja em confinamento, e isso não é atingido, porque muita gente continua a infringir, seja por motivos profissionais, seja por lazer.”

Apesar das dificuldades, Cátia Ornelas garantiu que “o Brasil continua a trabalhar para diminuir os casos de covid-19” e que “a ciência tem tido grandes avanços no combate ao vírus”.

Exemplo disso, aponta Maria Sardinha, é o Instituto Butantan, em São Paulo, que está a trabalhar no desenvolvimento da vacina Butanvac, que não depende de matérias-primas externas, e pode por isso ser produzida mais rapidamente. Paralelamente, o mesmo instituto científico, está a desenvolver um soro para o tratamento de doentes covid-19.