A história da emigração madeirense par o Brasil tem já uma vasta e longa história. São cerca de 500 anos de vagas migratórias como detalhou Rui Abreu, diretor regional das Comunidades e Cooperação Externa, numa entrevista ao JM-Madeira.

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“Existiram grandes saídas nos séculos XVII e XVIII, igualmente em finais do século XIX e durante a primeira metade do século XX”.
O governante com a pasta das Comunidades supõe que essa ligação seja, provavelmente, anterior à descoberta oficial.
“Muito possivelmente, teriam partido da Madeira, em inícios ou meados de 1493, as primeiras caravelas que exploraram e demarcaram a localização do território brasileiro, para incorporá-lo na área afeta à coroa portuguesa, definida no Tratado de Tordesilhas, assinado no ano seguinte de 1494”, descreveu.
Segundo o diretor regional, “a Madeira serviu também como modelo para a colonização do Brasil”.
“Já em 1525, Antão de Leme, natural da Madeira, tinha sido o Primeiro Juiz Ordinário de Santa Catarina, segundo nos dá conta Mota de Vasconcelos, em a ‘Epopeia do Emigrante Madeirense’”, destacou.
A grande ligação continuou e “seguiram para o Brasil vários elementos ligados à cultura açucareira”. Nos anos seguintes emigrantes madeirenses “continuavam a integrar a nova câmara da cidade de Salvador da Baía, registando-se igualmente a presença de madeirenses na área de São Vicente e de Santos”.
Principal destino
“A partir de meados e finais do século XVI, o Brasil foi o principal destino da emigração madeirense, situação que se manteve até muito recentemente”, recorda Rui Abreu.
A construção do Brasil, a partir do século XVI “fez-se por força da intervenção do reino, mas também das ilhas”, referiu. “Nos séculos XVI e XVII, a maior intervenção foi dos madeirenses, enquanto que no século XVIII, nota-se a dominância das gentes de origem açoriana, para nas centúrias seguintes termos uma distribuição variada”, explanou. Com a implantação da República em Portugal, a vaga de emigrantes rumo ao Brasil continuou, mas em menor número.
Enorme legado
Durante a extensa permanência madeirense em terras de Vera Cruz, Rui breu detalha o enorme legado deixado pelas gentes da Região. “Muitos foram os clubes, associações e missões criadas, sobretudo nas cidades costeiras brasileiras, mantendo-se vivo, ainda hoje, um património humano e cultural assinalável”, enalteceu. Atualmente continua a existir alguma emigração “mas o movimento é mais relevante no sentido Brasil-Madeira, do que no sentido inverso”.
Os emigrantes madeirenses em Terras de Vera Cruz dedicavam-se tradicionalmente à agricultura e ao pequeno comércio, deslocavam-se para o Brasil e não voltavam à Madeira.
Nos dias de hoje, “os descendentes têm muito maior formação, distribuindo-se por áreas tão diversas como a medicina e outras áreas qualificadas. Há ainda uma grande maioria ligada ao comércio”.
Estima-se que, presentemente, a comunidade madeirense radicada no Brasil ande à volta de 100.000 pessoas, de acordo com o diretor regional das Comunidades e Cooperação Externa.
Terra de enormes oportunidades
Nos séculos XVII e XVIII, milhares de famílias partiram para as colónias. O Brasil apresentava-se como uma terra de enormes oportunidades para os portugueses, sem os perigos que tinham de enfrentar noutras regiões do mundo, atraídos pela exploração do açúcar, do tabaco e, mais tarde, do ouro e pedras preciosas.
“Os fluxos migratórios eram suscitados pelas necessidades de mão-de-obra em inúmeras atividades, em especial relacionadas com o comércio e a indústria, mas também as plantações de café e de algodão. Os emigrantes europeus, incluindo os madeirenses, foram substituindo esta mão-de-obra”, concluiu Rui Abreu.
JM-Madeira 01.03.2021