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Realização de workshops e publicação de livros que preparam quem tenciona emigrar para o Reino Unido. Apoio aos novos emigrantes assim que chegam à nova realidade. Estas três atividades marcaram o primeiro ano do projeto “Ó Mãe, Vou Emigrar”, que trabalha agora na adaptação a mais formatos e no alargamento a novos públicos.

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Patrícia Marcelino é a fundadora do PM Excel Group, empresa de consultadoria que opera junto de pessoas que pretendam emigrar para o Reino Unido. A antiga funcionária do Consulado Geral de Portugal em Londres, que também já chegou a dar aulas gratuitas de Inglês a portugueses, explicou à Revista PORT.COM o conjunto de serviços e de ferramentas que tem prestado aos seus compatriotas.

O que levou ao início do projeto “Ó Mãe, Vou Emigrar”?

Tudo começou no Natal de 2014, quando fui voluntária numa organização britânica que apoia os “sem abrigo”. Tínhamos que usar uns crachás cuja cor indicava a nossa função e que línguas falamos para além do inglês, para podermos ajudar quem fala o nosso idioma.

Rapidamente me vieram dizer que havia portugueses a quem eu eventualmente teria que dar apoio, o que para mim foi um choque. Fui para ali para ajudar, mas nem me passou pela cabeça que naquelas circunstâncias pudessem estar pessoas “nossas”. Encontrei cinco portugueses, um em particular dificuldade, que tive que ajudar mesmo após essa experiência, porque nem documentos tinha, uma vez que tinha sido assaltado enquanto dormia nas ruas. Sem documentos obviamente nada avançava na sua vida. Foi o confronto com esta realidade que eu não esperei nunca encontrar que me fez criar o projeto. Desde então felizmente já conseguimos ajudar muita gente.

A realização de workshops e a publicação de livros têm sido as principais áreas de atuação deste projeto. Com que objetivos?

O que nós tentamos fazer é fornecer ferramentas e dar dicas que consideramos essenciais para que as pessoas tomem as decisões mais ponderadas e certeiras com vista ao alcançar do sucesso aqui no Reino Unido. Mas antes de mais gostava de deixar claro que o que fazemos não é incentivar à emigração para o Reino Unido. Essa emigração já se verifica há muitos anos, mas nos últimos tem-se acentuado.

Qual é o perfil das pessoas que participam nos workshops sobre o que fazer antes de mudar de país?

Tentar caracterizar os nossos formandos é difícil, porque há um pouco de tudo. Procuram-nos imensas pessoas com baixa escolaridade e que desempenham profissões com muita procura cá no Reino Unido, como funcionários de estabelecimentos de restauração ou operários da construção civil. Nestes campos abundam maioritariamente homens entre os 20 e os 45 anos, que em Portugal estão desempregados ou com contratos precários. Mas também há muitas senhoras que estão dispostas a trabalhar em qualquer ramo, pois normalmente procuram acompanhar a família na deslocação e “sujeitam-se” ao que conseguirem. Essas pessoas depois costumam voltar a contactar-nos para solicitar outro tipo de apoio, como arranjar casa, colocar as crianças na escola, etc. Também temos notado um aumento da chegada aqui a Londres de um novo grupo de pessoas, a quem eu chamo “Os pais”, pessoas que decidem vir para ficar mais perto dos filhos que emigraram e decidiram ficar por cá.

O Reino Unido tem sido o principal destino recente de jovens portugueses com formação superior. Também procuram estes workshops?

Sim. Esses jovens vão aos workshops sobretudo para confirmar se já possuem toda a informação necessária para uma mudança de sucesso. Essas pessoas, normalmente com idades compreendidas entre os 23 e os 35 anos, são aquelas de que mais rapidamente deixamos de ouvir falar assim que se instalam no Reino Unido.

As pessoas com formação superior conseguem mais facilmente empregos de qualidade. Mesmo que não seja logo à primeira, rapidamente chegam a boas posições, desde que o seu inglês seja “desembaraçado” e tenham na ponta da língua os termos técnicos da sua área específica.

Curiosamente, também temos tido um acentuado aumento de procura por parte de profissionais bem-sucedidos, que ponderam uma experiência internacional no Reino Unido para “abrilhantar” ainda mais o seu currículo, e para tal solicitam o nosso apoio e orientação.

Quais são os principais conselhos que costumam dar aos portugueses que estão na iminência de partir para o Reino Unido?

Tentamos informar as pessoas para que adiem o máximo possível a sua decisão e para que comecem a fazer algumas coisas a partir de Portugal, quando ainda estão no conforto do lar, como por exemplo traduzir o currículo e adaptá-lo à moda do Reino Unido, porque aqui não se usa o CV Europass.

Os que me procuram mais antes de partirem são os licenciados, mas os que me preocupam mais são as pessoas com menos habilitações, que na maioria das vezes ou não sabem ou têm grandes limitações em falar inglês.

Em contraste, aqui no Reino Unido, essas pessoas com menos formação são as que mais me contactam para pedir apoio quando chegam.

As Terras de Sua Majestade são terras de oportunidades de emprego para os portugueses?

Como eu menciono numa das três partes do guia “Ó Mãe, Vou Emigrar”, aqui as oportunidades de trabalho existem, mas são-nos oferecidas na mesma proporção da nossa capacidade para falar inglês. Ou seja, por muita formação que tenhamos, se o nosso inglês não é suficiente para desenvolvermos a nossa profissão com destreza e assertividade, esta formação de nada nos vai valer.

Por isso, o conselho que dou sempre é treinar a língua o máximo que possam antes de partir, tentando desenvolver e desenferrujar, porque a pronúncia não é o mais importante numa terra em que quase todos somos “estrangeiros”.

É mais fácil encontrar emprego em Londres ou fora da capital?

Em 2014 vieram para o Reino Unido cerca de 31 000 portugueses, com cerca de metade a procurarem Londres para começar uma nova vida. Há muita oferta, mais do que numa cidade piscatória do sul de Inglaterra, por exemplo, mas também depende do que se procura.

Os enfermeiros e os professores terão colocação muito mais facilmente fora de Londres, pois é onde escasseia mão-de-obra qualificada nessas duas profissões.

Quem já frequentou uma das nossas sessões sabe bem que “não pintamos o cenário cor de rosa”, pois tal como existem mais oportunidades, também existe mais procura. E na mesma situação que os portugueses à procura de trabalho, estão muitas mais pessoas de muitas mais nacionalidades.

O que se pretende com os nossos workshops é que as pessoas tenham consciência que pode não ser fácil ao princípio e que se começarem a preparar-se antes de saírem de Portugal, as hipóteses de sucesso são as mesmas ou ainda mais elevadas.

Cursos online e mais workshops na calha

O que pode ser encontrado nos guias que ajudam as pessoas que querem emigrar ou que o tenham feito recentemente?

A coleção tem três volumes. Começou por ser disponibilizada no formato de livros online, que neste momento já podem ser adquiridos em versão papel, por exemplo através do nosso website.

Não se pretende que as pessoas fiquem preparadas após lerem os livros ou frequentarem os nossos workshops, mas sim que tenham noção do que devem saber e fazer antes de partir e quando cá chegam, bem como todos os passos para um processo de recrutamento de sucesso no Reino Unido.

Estas são as grandes temáticas abordadas nestes três livros que constituem a coleção “Ó Mãe, Vou Emigrar”.

Depois dos workshops e dos guias, o que é que se segue? Existe algo que ainda não tenha conseguido alcançar nesta área?

Sim há. Já estão a ser preparadas as traduções para inglês destes nossos guias e a criação de um curso online, em português e em inglês, com os mesmos conteúdos dos workshops.

Já não são só os portugueses que nos procuram, temos tido imensos contactos sobretudo a partir do Brasil e de Angola, dois países que também estão a ver o fluxo de emigrantes para o Reino Unido a aumentar todos os anos.

Daí os guias terem sido primeiro criados em versão online e dos cursos online estarem já a ser gravados. Também estamos a trabalhar em grande escala com empresas portuguesas que pretendem entrar ou testar o mercado britânico, pelo que teremos novidades para muito em breve a este respeito.

Estamos ainda a colaborar com instituições britânicas que nos contactaram para os apoiarmos na seleção e recrutamento de profissionais de saúde, para já enfermeiros e Community Care Workers.

Os workshops continuam neste novo ano de 2016?

Sim. Não só continuam como temos ambição de chegar a mais pontos do país, depois de já termos realizado em Lisboa, Porto, Viseu e Braga. Mas ainda não conseguimos chegar ao Algarve, Alentejo, Açores e Madeira.

Estamos a tratar de arranjar apoios para que isso se torne realidade muito rapidamente. Procuramos parceiros e patrocinadores que permitam continuarmos estas ações, para que a médio prazo consigamos que estas sejam gratuitas.

in REVISTA PORT.COM / 30 JAN 2016