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Nathalie de Oliveira e Ludovic Mendes são dois lusodescendentes que vivem na cidade de Metz, no norte de França, e querem entrar no parlamento francês na sequência das eleições legislativas de 11 e 18 de junho.

França

 

 

Ainda que residam na mesma cidade, Nathalie e Ludovic não são adversários diretos porque se candidatam em duas circunscrições diferentes, ela em Moselle 3, com a etiqueta do Partido Socialista (PS), ele em Moselle 2, com o rótulo do movimento A República em Marcha! do presidente Emmanuel Macron.

Nathalie de Oliveira, vereadora em Metz com 39 anos, entrou no PS em 2006 e, apesar da crise que vivem os socialistas após a pesada derrota nas presidenciais, considera que "a missa ainda não está dita" e não lhe passou pela cabeça "nem um minuto ir na onda do Macron porque tinha mais hipóteses de ser eleita deputada".

"Não é por vivermos esta sequência má - que vai exigir do Partido Socialista uma refundação e uma renovação completas - que a ideia, os princípios e os valores socialistas vão morrer. Se eu fiquei no PS é para servir o ideal do verso da Grândola Vila Morena "em cada rosto igualdade". A fidelidade a esse ideal nutre a minha força e energia para fazer campanha", descreveu, num português fluente, a candidata.
Formada em administração europeia e durante oito anos ao serviço do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia, a lusodescendente sempre gostou de "combates impossíveis, como dizia o Manuel Alegre acerca do Mário Soares" e acredita que pode vencer as legislativas na sua circunscrição onde anda em campanha desde janeiro.

"Para mim, vou estar na segunda volta e posso ganhar. Esta eleição tem uma dimensão local e o reflexo do povo quando escolhe o deputado é o nome e o rosto da pessoa. Eu aposto no desejo forte do eleitorado [da zona] 3 de Moselle de escolher uma pessoa que incarne o futuro verdadeiramente e eu sou essa pessoa", considerou, apontando que os adversários de A República em Marcha! e de A França Insubmissa têm mais de 60 anos.

Apesar de ter nascido em Metz, Nathalie considera-se "uma portuguesa inteira, apaixonada pela poesia e literatura portuguesas" e conta com orgulho que o pai, de Celorico de Basto, chegou a França ?a salto', clandestinamente, em março de 1969.

"Ser deputada seria uma honra enorme para mim, uma filha do ?salto', uma filha de um trolha e de uma mulher-a-dias, como diz a minha mãe. Ser candidata pelo Partido Socialista já tem sido uma grande honra. Ser eleita deputada com esta identidade dupla é ainda uma alegria maior num contexto do Front National muito elevado", explicou a vereadora que entrou na câmara de Metz como conselheira municipal em 2008.

Já Ludovic Mendes, de 30 anos, contou à Lusa, em francês, que foi um dos quatro primeiros "marchadores" do movimento de Emmanuel Macron no seu distrito, tendo sido o responsável dos "Jovens com Macron" na região, após ter deixado o PS no ano passado e aderido ao novo movimento.

"Era preciso renovar a política e as pessoas que a compõem, para não haver só políticos mas também para haver gente que vem de outro meio, que é mais jovem, que tem ideias novas e que tem uma experiência ligada à realidade do terreno", defendeu.

Diretor regional de vendas numa empresa, Ludovic Mendes faz parte dos cerca de 50% de candidatos do movimento centrista oriundos da sociedade civil e acredita poder ser eleito numa circunscrição onde Emmanuel Macron conquistou 64,33% dos votos na segunda volta das presidenciais.

"Temos realmente hipóteses de conseguir porque os outros candidatos são sempre os mesmos. Depois, a direita e a esquerda estão divididas. Além disso, liderámos aqui a primeira e a segunda volta das presidenciais", explicou.

Filho de um emigrante de Guimarães e de uma mãe espanhola, "ser deputado seria um orgulho" para Ludovic, "um compromisso para com a França" para lhe "retribuir" o que ela lhe deu "enquanto filho de emigrantes" e "uma forma de reembolsar o crédito" que este país lhe "ofereceu".

"Mudaria toda a minha vida. Na família, sou a única pessoa realmente empenhada na política. Sou de uma família de emigrantes operários e, para eles, é já um orgulho que eu possa ser candidato, provando que, apesar de onde vimos, podemos subir os degraus. Por outro lado, até que enfim que se dá lugar às pessoas que não são oriundas da classe política ou da classe mais rica", concluiu.

in Diário de Noticias